Guerra no Médio Oriente

Membro extremista do Governo de Netanyahu faz provocação em local sagrado muçulmano para boicotar negociações (288º. dia de guerra)

Itamar Ben-Gvir, que quer interromper as negociações para um cessar-fogo, gravou um vídeo no complexo da mesquita de al-Aqsa, em Jerusalém, em tom de provocação. Israel bombardeou o centro de Gaza, enquanto os tanques avançam mais para o interior de Rafah. Eis os destaques do 288º. dia de guerra no Médio Oriente

Itamar Ben-Gvir
Amir Levy

O ministro da Segurança Nacional de Israel (pertencente à ala mais extremista) visitou o local muçulmano mais sagrado de Jerusalém, gravando um vídeo a dizer que foi rezar. De acordo com o jornal “The Guardian”, tratava-se de um movimento provocador, para tentar interromper as negociações de cessar-fogo. (Os colegas de Governo de Netanyahu que pertencem à extrema-direita têm defendido a continuação das hostilidades.)

Itamar Ben-Gvir, ultranacionalista e defensor do movimento dos colonatos, gravou imagens no complexo da mesquita de al-Aqsa, também conhecido como Monte do Templo, um local sagrado para muçulmanos e judeus. À sombra da Cúpula da Rocha, Ben-Gvir falou com o seu segurança pessoal visível e um membro armado da polícia fronteiriça israelita, que patrulhava nas proximidades. Disse que foi ao complexo rezar pelo regresso dos reféns israelitas mantidos em Gaza, “mas sem um acordo imprudente, sem rendição”.

Acrescentou estar a “rezar e a trabalhar arduamente” para que o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, resistisse à pressão internacional para assinar um acordo de cessar-fogo e, em vez disso, continuasse a campanha militar em Gaza.

A visita mereceu imediata condenação do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Jordânia, que a considerou “um passo provocativo” e uma violação cometida pelo “governo extremista israelita”. O ministro do Interior israelita, Moshe Arbel, do partido religioso judeu Shas, repreendeu Ben-Gvir por ter entrado na zona. “Um dia, a era das provocações de Ben-Gvir passará”, comentou Arbel.

Já John Kirby, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, declarou, sem nomear Ben-Gvir, que a Casa Branca estava “preocupada com a retórica e as ações que são contraproducentes para a paz e para a segurança na Cisjordânia”. Ben-Gvir visitou o local anteriormente, em maio, para declarar a sua objeção a que países como a Espanha, a Noruega e a Irlanda reconheçam um Estado palestiniano.

As forças israelitas bombardearam campos de refugiados no centro da Faixa de Gaza, e atacaram a cidade de Gaza, no norte, matando pelo menos 21 pessoas. Nesta quinta-feira, os tanques avançaram também mais profundamente em Rafah, no sul, revela a Reuters.

Uma série de ataques aéreos israelitas matou 16 pessoas na cidade de Zawayda, nos campos de Bureij e Nuseirat e na sobrelotada cidade de Deir-Al-Balah, o último grande centro urbano de Gaza que não foi invadido pelas forças israelitas.

O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, que deverá discursar no Congresso dos EUA na próxima semana, fez uma visita surpresa às tropas israelitas na zona em redor de Rafah, dizendo-lhes que a pressão militar, combinada com a exigência de trazer de volta 120 reféns ainda detidos em Gaza, estava a produzir resultados. “Esta dupla pressão não está a atrasar o acordo, está a fazê-lo avançar”, afirmou, segundo um comunicado do seu gabinete.

Militares israelitas referiram, em comunicado, que mataram dois comandantes da Jihad Islâmica em dois ataques aéreos na Cidade de Gaza, incluindo um que disse ter participado no ataque de 7 de outubro no sul de Israel.

Outras notícias em destaque:

⇒ O primeiro-ministro israelita anulou uma ordem do Ministério da Defesa que previa a construção de um hospital de campanha em Israel para dar assistência a crianças palestinianas de Gaza, após nove meses de guerra, anunciou o seu gabinete. Benjamin Netanyahu "não aprova a instalação de um hospital para a população de Gaza no interior do território israelita" e "em consequência não será construído", precisou o gabinete governamental.

⇒ O secretário-geral da ONU, António Guterres, está "muito desapontado" com a adoção no Parlamento israelita (Knesset) de uma resolução que se opõe "à criação de um Estado palestiniano", realçou o seu porta-voz. "Não podemos rejeitar a solução de dois Estados por um voto. O secretário-geral está muito desapontado com a decisão do Knesset", frisou Stéphane Dujarric, em declarações aos jornalistas.

⇒ O ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, ordenou ao Exército para enviar no domingo 1000 convocatórias a jovens da comunidade ultraortodoxa para o recrutamento militar, uma medida rejeitada por este grupo religioso.