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Guerra no Médio Oriente

“Vemos um medo crescente e perseguição de pessoas com símbolos judaicos”: o mundo “é diferente” depois do ataque do Hamas em Israel

“Nunca se fica apenas por palavras; essas palavras eventualmente levam a ações”: é o alerta de Pinchas Goldschmidt, que lidera a Conferência de Rabinos Europeus. Em entrevista ao Expresso, o rabino compara o período atual, de crescente antissemitismo na Europa, com os anos que antecederam o Holocausto. Faz ainda um alerta às autoridades e aos governos europeus, além de apontar possíveis beneficiários da falta de distinção entre antissionismo e antissemitismo

Pinchas Goldschmidt
Leonhard Simon

Em países como a Alemanha, França e Bélgica, os judeus têm perguntado aos seus rabinos se podem esconder as mezuzot (extrato da Torá colocado à porta das casas) e se estão autorizados a substituir as tradicionais kipás por um chapéu ou boné. Os pedidos, de acordo com o rabino Pinchas Goldschmidt, que lidera a Conferência de Rabinos Europeus, uma aliança rabínica ortodoxa, surgem na sequência de um crescimento do antissemitismo na Europa e nos Estados Unidos da América.

O discurso de ódio, atos de vandalismo, assédio e ameaças tornaram-se significativamente mais frequentes desde o início da guerra no Médio Oriente, a 7 de outubro. A Rias, que monitoriza o antissemitismo na Alemanha, documentou um aumento de 320% nos incidentes no mês seguinte a 7 de outubro. O Conselho de Instituições Judaicas em França afirmou que, nos três meses que se seguiram aos ataques do Hamas, os incidentes antissemitas foram equivalentes em número aos dos três anos anteriores juntos. Em janeiro, a embaixadora dos EUA em Portugal, Randi Charno Levine, também alertou que o fenómeno estava a crescer no país.

O rabino Pinchas Goldschmidt diz ao Expresso que se apoia nos dados oficiais, compilados pelas forças de segurança dos diferentes países, mas que assume que “os dados reais, de crimes não reportados, sejam muito mais elevados”. Em entrevista ao Expresso, o presidente da Conferência de Rabinos Europeus garante que chegam ao seu conhecimento casos de pessoas que foram vítimas de crimes de ódio: “Vemos um medo crescente e perseguição de pessoas com símbolos judaicos. O mundo em que vivemos depois de 7 de outubro é diferente.”