O acampamento estudantil na Faculdade de Psicologia e no Instituto de Educação da Universidade de Lisboa, que ocupa o local desde terça-feira em solidariedade para com o povo palestiniano e pelo fim do uso de combustíveis fósseis, começou esta noite a ser dispersado por agentes da Polícia de Segurança Pública (PSP), tendo sido registada a detenção de oito pessoas.
Ao Expresso, fonte do Climáximo, um dos coletivos ambientalistas na organização do acampamento, disse que se encontravam no local “cerca de 20 agentes da polícia para dispersar o acampamento”. Perto das 23h, ainda não tinham sido registados detidos, mas a mesma fonte disse que, por volta dessa hora, polícia deu "o terceiro aviso para as pessoas saírem”.
Depois desse terceiro aviso, oito estudantes foram detidos. "Algumas pessoas foram obrigadas a sair e oito pessoas foram detidas, algemadas e levadas pela polícia", disse Catarina Bio, porta-voz do movimento de protesto pelo cessar-fogo em Gaza, à Lusa.
O Comando Metropolitano de Lisboa da PSP confirmou a operação, indicando que lhe foi “comunicada a ocupação”. Quanto às detenções, a PSP disse não haver "nada a comentar".
"À nossa chegada, houve bastante violência policial. Falo de fortes empurrões e bastonadas, deixando inclusivamente pais de estudantes, que se encontravam a apoiar o protesto, no chão", refere Joana Fraga, outra porta-voz do movimento.
Os oito detidos, que se encontram na esquadra dos Olivais, vão passar a noite "noutro local e amanhã serão presentes a juiz". Ao Expresso, Fraga revelou que o acampamento se mantém, mas fora da faculdade. “Acampamos em frente da faculdade e é para manter-se”, disse. ”Não consentimos! Voltamos a ocupar. Convocamos uma acampada está noite à frente da FPUL", escreveram na rede social Instagram.
Reitoria chamou a polícia por considerar que protesto era, agora, uma “ameaça à segurança”
A reitoria da Universidade de Lisboa (UL) confirmou, num comunicado, que apelou à intervenção das autoridades, por considerar que um protesto inicialmente legítimo começou a resultar em “preocupantes situações de destruição do património, grafitagem e ameaça à segurança através da eliminação e arrombamento de fechaduras”. Num comunicado do movimento estudantil “Fim ao Fóssil”, lê-se que a faculdade “teria garantido aos estudantes que não chamaria a polícia”.
A UL também mencionou um “aumento da preocupação dos estudantes das duas instituições com possíveis interrupções de atividades previstas, letivas e não letivas”. “Perante esta situação, o Reitor da ULisboa e os diretores da Faculdade de Psicologia e do Instituto de Educação solicitaram a intervenção das autoridades, de forma a repor a segurança de bens, equipamentos e pessoas das suas instituições”, afirmaram.
Joana Fraga disse que, na terça-feira, quando começou a ocupação, decorreu uma reunião com a direção e "houve um compromisso de não despejar e dar ordem de dispersão desde que se fosse mantida a atividade letiva normal e que esta ocupação não perturbasse a atividade letiva normal".
A porta-voz garantiu que até quinta-feira "todas as aulas têm acontecido com normalidade". "Houve aqui, de certa forma, uma quebra desta palavra que ainda estamos a tentar perceber, ainda estamos a tentar dialogar e entrar em contacto com a direção para perceber o que é que aconteceu", acrescentou.
A mesma instituição garante que as direções das faculdades “favoreceram inicialmente a coexistência da manifestação de protesto com o desenvolvimento das atividades”, por valorizarem “a expressão livre de ideias”. Mas defende que os “métodos e comportamentos” dos alunos “põem seriamente em causa a segurança de pessoas e bens e, por extensão, o bom funcionamento da ULisboa e das suas Escolas”.
Os estudantes e jovens dos grupos presentes na manifestação na UL exigem, entre muitas outras ações, um cessar-fogo imediato na Faixa de Gaza, o reconhecimento do Estado palestiniano e da situação em Gaza como um “genocídio”, e apelam a um boicote de todas as instituições de ensino ao Governo israelita. Há também coletivos climáticos na organização que, como em eventos anteriores, apelam a políticas ambientais mais ambiciosas, nomeadamente o fim do uso de combustíveis fósseis.
O acampamento estudantil na Universidade de Lisboa seguiu o exemplo do acampamento na Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, onde milhares de estudantes exigem o fim da associação da sua universidade com o governo israelita. O protesto foi repetido por todos os EUA e pela Europa e, como em Columbia, muitos foram reprimidos violentamente pelas forças policiais.
atualizado às 8h40 do dia 10 de maio de 2024 com as detenções e respetivas declarações