Só este sábado a guerra em Gaza já fez, pelo menos, cinco mortos e 34 feridos. A cada dia que passa os aliados de Israel parecem querer distanciar-se dos atos de Netanyahu, mas continua a haver dinheiro para enviar armas para Telavive - e estas armas continuam a chegar às mãos do exército israelita.
Os acontecimentos mais recentes
Cinco palestinianos morreram este sábado e 30 ficaram feridos, devido a um tiroteio e uma fuga desordenada de pessoas durante a distribuição de ajuda alimentar, informou o Crescente Vermelho da Palestina. De acordo com a organização de ajuda humanitária, três dos mortos foram atingidos por tiros, enquanto milhares de pessoas aguardavam a chegada de cerca de quinze camiões de farinha e outros alimentos.
Segundo testemunhos relatados à agência de notícias francesa AFP, membros dos “comités de proteção popular”, responsáveis pela fiscalização da distribuição de ajuda, dispararam para o ar, ferindo várias pessoas, enquanto os camiões atropelaram outras.
Ao mesmo tempo, segundo os relatos, tanques israelitas posicionados a algumas centenas de metros de distância disparavam.
Também este sábado, quatro observadores da ONU foram feridos por um obus no sul do Líbano, quando na fronteira israelo-libanesa ocorriam as trocas de tiros diárias entre Israel e o Hezbollah, segundo a Organização de Supervisão de Tréguas das Nações Unidas para o Médio Oriente (UNTSO).
Considerando "inaceitável atingir as forças de manutenção da paz", a UNTSO apelou a todas as partes para que "cessem a intensa troca de tiros". No comunicado é acrescentado que os observadores foram hospitalizados e que está a ser investigada "a causa da explosão".
Alemanha e EUA mudam de tom…
Dias depois de o Hamas ter lançado os seus ataques a Israel a 7 de outubro, o chanceler alemão, Olaf Scholz, foi um dos primeiros líderes ocidentais a chegar a Telavive. De pé, ao lado do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, declarou que a Alemanha tinha "apenas um lugar - e é ao lado de Israel", lembra o “New York Times”.
De notar que a Alemanha é o segundo maior fornecedor de armas a Israel e uma nação cuja liderança chama ao apoio ao país um "Staatsräson", uma razão nacional para a existência, como forma de expiar o Holocausto.
Só que, refere o jornal, o lugar “ao lado de Israel” já não é tão confortável para a Alemanha tendo em conta o genocídio feito à população em Gaza. Na semana passada o chanceler voltou a estar ao lado de Netanyahu em Telavive e adotou um tom diferente. "Por muito importante que seja o objetivo", perguntou, “pode justificar custos tão elevados?”
"O que mudou para a Alemanha é que este apoio incondicional a Israel é insustentável", disse Thorsten Benner, diretor do Global Public Policy Institute ao jornal nova iorquino. “Ao manterem esta noção de Staatsräson, deram a falsa impressão de que a Alemanha ofereceu carta branca a Netanyahu.”
A mudança de posição também acompanha a evolução da posição do aliado mais importante da Alemanha, os Estados Unidos, que têm mostrado cada vez mais desagrado com as ações de Israel, nomeadamente através de uma abstenção numa votação do Conselho de Segurança da ONU que permitiu a aprovação de uma resolução de cessar-fogo.
As relações entre Biden e Netanyahu parecem ter descido a um novo nível, com ambos os homens fortemente pressionados pela política interna e pelas eleições que se aproximam.
Biden está a enfrentar a indignação de aliados globais e dos seus próprios apoiantes sobre o número de mortes de civis na guerra contra o grupo islamita palestiniano e as restrições de Israel à entrada de alimentos e medicamentos em Gaza.
… e os parceiros de Netanyahu também
Netanyahu está a ser fortemente criticado pelos seus parceiros de coligação Itamar Ben-Gvir e Bezalel Smotrich por qualquer indício de que esteja a hesitar na guerra contra o Hamas ou na expansão dos colonatos israelitas na Cisjordânia ocupada.
O seu governo em tempo de guerra também está profundamente dividido em relação à proposta de legislação que poderia acabar por recrutar mais israelitas ultraortodoxos, conhecidos como ‘haredim’, para as forças armadas - uma votação que foi subitamente adiada na manhã de terça-feira.
Pelo menos por agora, a sobrevivência política de Netanyahu depende da manutenção de Ben-Gvir e Smotrich na coligação. Se deixarem o governo, isso obrigaria a eleições antecipadas em Israel, que Netanyahu muito provavelmente perderia para o seu rival centrista, Benny Gantz.
Novas eleições são precisamente o que o senador Chuck Schumer, democrata de Nova Iorque e líder da maioria, pediu num discurso recente, no qual afirmou que Netanyahu era um impedimento à paz. Biden considerou-o "um bom discurso", sem apoiar a convocação de eleições.
Mas ainda há armas
Apesar dos desentendimentos e da mudança de tom de Biden, o governo dos Estado Unidos continua comprometido em apoiar Israel, e não houve nenhum indício de que poderia reduzir o fornecimento de armas a Telavive.
A abstenção da ONU não equivale a um veto norte-americano à campanha militar de Israel contra o Hamas em Rafah, embora sublinhe o desejo de Washington e dos aliados de que Netanyahu apresente primeiro um plano pormenorizado para poupar os civis que ali se escondem.
Mas Biden também está consciente do azedume das atitudes em relação a Israel no seu próprio Partido Democrata, o que prejudica o seu apoio nos estados em que está a disputar a reeleição com, ao que tudo indica, o rival republicano Donald Trump, ao longo do extenso processo de campanha eleitoral para as presidenciais norte-americanas de novembro.
Aliás, os Estados Unidos autorizaram, nos últimos dias, a transferência de milhares de milhões de dólares em bombas e caças para Israel, segundo o “The Guardian”. Os novos pacotes de armas incluem mais de 1.800 bombas MK-84 de 2.000 lb e 500 bombas MK-82 de 500 lb, disseram as fontes, que confirmaram um relatório do Washington Post.
Outras notícias que marcaram o dia:
⇒ "Com apenas 10 hospitais a operar com capacidade mínima em Gaza, milhares de pacientes continuam privados de cuidados de saúde", alertou o diretor-geral da OMS, Tedros Ghebreyesus, numa publicação nas redes sociais. A OMS diz, ainda, que de cerca de nove mil pacientes da Faixa de Gaza devem ser retirados com urgência para tratamento.
⇒ O ministro iraniano dos Negócios Estrangeiros, Hosein Amir Abdolahian, e o secretário-geral da Jihad Islâmica palestiniana, Ziad Najalah, reuniram-se, este sábado, em Teerão, em mais uma manifestação de apoio do Irão à causa palestiniana. "Sabemos que o povo iraniano tem apoiado o povo palestiniano desde a vitória da Revolução Islâmica, e esta questão não é segredo para ninguém, e o Irão pagou o preço com sanções", disse o funcionário palestiniano, numa breve conferência de imprensa.
⇒ O Governo brasileiro saudou hoje a última decisão do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), que ordena a Israel que garanta o acesso à ajuda humanitária à população de Gaza. O Ministério dos Negócios Estrangeiros do Brasil, citado em comunicado, espera que a decisão do TIJ "resulte em ajuda humanitária urgente para Gaza e num ambiente de diálogo político que permita um cessar-fogo definitivo, a libertação imediata de reféns e a retoma das negociações para a solução de dois Estados.
⇒ O ministro francês dos Negócios Estrangeiros,t, afirmou, numa conferência de imprensa no Cairo com os seus homólogos egípcio e jordano, que concordaram em trabalhar em conjunto para alcançar um cessar-fogo imediato em Gaza. "Concordámos em trabalhar juntos para alcançar um cessar-fogo imediato em Gaza e encontrar uma solução política", disse o governante, que destacou os "esforços conjuntos europeus-árabes para sair da crise" no enclave palestiniano, e sublinhou a sua rejeição "contra qualquer ação militar na cidade palestiniana de Rafah".
⇒ Milhares de pessoas manifestaram-se mais uma vez em Londres, para exigir um cessar-fogo permanente em Gaza, na 11.ª manifestação nacional na capital britânica desde 7 de outubro. "Pedimos um cessar-fogo permanente para pôr fim ao que o mais alto tribunal do mundo considerou ser um genocídio plausível", disse o diretor da Campanha de Solidariedade com a Palestina, Ben Jamal, um dos organizadores da marcha deste sábado.