O ataque do Hamas às comunidades do sul de Israel não foi um falhanço de segurança. Ou melhor, foi, “claro que foi”, mas há razões políticas com origens antigas para que essas fissuras na proteção dos civis se tenham tornado tão visíveis - e mortais. Para o veterano no exército israelita Ori Givati, o momento mais negro na História do seu país desde a sua fundação têm um nome: ocupação. E apenas um grupo de culpados: os sucessivos governos de Israel que a viabilizam.
Em entrevista ao Expresso, Givati, que passou parte do seu serviço militar na Cisjordânia, diz que as Forças de Defesa de Israel se tornaram “um exército privado” ao serviço dos “colonatos ilegítimos” que Israel continua a permitir que se construam em terras de outro povo. Por estarem ocupados nesta tarefa delegada neles por “líderes messiânicos”, negligenciaram a segurança a sul, onde mais de 1300 pessoas foram assassinadas e torturadas pelos extremistas do Hamas, durante várias horas.
Há um sentimento de necessidade de vingança, de recuperar a dignidade que foi perdida. Mas estes sentimentos não constituem um plano de ação legítimo.
A associação da qual faz parte tem recolhido testemunhos de centenas de soldados, uns entregam-nos de forma anónima, outros falam publicamente das suas experiências. O objetivo é mostrar à sociedade israelita que os episódios de violência contra os palestinianos, que depois se torna também violência contra os israelitas, não são realizados pelos chamados lobos solitários, por um ou outro soldado mais extremista que saiu da linha de comando: essa é a linha de comando.
Em Gaza, em 2014, a palavra de ordem era “destruir tudo” e Ori Givati não vê muitas diferenças agora. O problema, diz, não são os soldados que, na sua experiência, se preocupam genuinamente com a vida dos civis, mas as estruturas políticas. Com um Governo dependente de extremistas, muitos deles colonos em terras ocupadas, a guerra vai continuar até que Benjamin Netanyahu encontre forma de amortecer de alguma forma as da sua antecipada queda política.