Exclusivo

Guerra no Médio Oriente

Relatora da ONU para a Palestina: “A operação militar viola os princípios da distinção, da precaução e da proporcionalidade”

Muito crítica do que crê ser benevolência excessiva da comunidade internacional para com Israel, Francesca Albanese aponta crimes de guerra e contra a Humanidade. A seu ver, os palestinianos estão indefesos

Francesca Albanese é a relatora especial da ONU para os territórios palestinianos ocupados
D.R.

Tomás Guerreiro

Francesca Albanez concedeu esta entrevista ao Expresso enquanto viajava para os Estados Unidos da América, horas antes do chumbo da resolução de cessar-fogo no Conselho de Segurança das Nações Unidas. A relatora especial da ONU para os territórios palestinianos ocupados condena a operação de Israel por perpetuar violações sistemáticas do direito humanitário internacional e da Convenção de Genebra. Denuncia a política de ocupação e o regime de apartheid imposto ao povo palestiniano. Advoga pela urgência de um cessar-fogo para se travar “uma catástrofe humanitária de dimensões olímpicas”, com nuances de “limpeza étnica” e de “crime contra a Humanidade”.

Como descreve a situação humanitária em Gaza?
Há uma catástrofe humanitária de dimensões olímpicas. Já antes de 7 de outubro Gaza estava sob bloqueio ilegal há 16 anos. Não há recursos, sete em cada dez pessoas dependem de auxílio humanitário, metade da população está desempregada, há muita mortalidade infantil, todos os indicadores demonstram quão devastador é o bloqueio. É uma punição coletiva e enquadra-se num crime de guerra. O território está ocupado mesmo sem a permanência do exército, Israel controla entradas e saídas. Desde 7 de outubro, mais de 2800 palestinianos foram mortos, dos quais 700 eram crianças e 500 mulheres. Há 50 mil grávidas em risco. Esta população já enfrentou guerras de grande escala com Israel em 2008, 2009, 2012, 2014, 2021 e 2022. Antes de 7 de outubro foram mortos pelo conflito em Gaza 4200 adultos e 1200 crianças. Agora, cerca de 100 escolas abrigam um milhão de deslocados, dezenas de milhares de habitações estão destruídas, hospitais saturados e sem medicamentos. Sem água, os palestinianos bebem a do mar, salinizada e contaminada. Israel impede a entrega de ajuda humanitária, os bombardeamentos terraplanam áreas civis. Independentemente da legitimidade de autodefesa de Israel contra o Hamas, sob o artigo 51 da Carta das Nações Unidas, esta operação militar viola os princípios da distinção, precaução e proporcionalidade. Deram a ordem de evacuação a um milhão pessoas no Norte da Faixa de Gaza, mas o Sul está a ser bombardeado e não tem hospitais.