Quando o sol se põe, a única fonte de luz em Gaza vem das bombas que Israel deixa cair sobre os prédios que o exército israelita alega ter identificado como esconderijos ou fábricas de armamento do Hamas, o grupo terrorista que governa o território e que no passado sábado conduziu uma campanha de horror no sul de Israel, matando de forma bárbara mais de mil de israelitas, incluindo crianças e idosos.
“De noite ouvimos os bombardeamentos, de dia vemos a destruição”, conta ao Expresso, a partir de Gaza, Shahd Tawfeq, de 26 anos, formada em Comunicação Social na Universidade Al-Azhar, agora encerrada. A comunicação é intermitente, quando existe. Começámos a falar com Shahd na terça-feira à noite, e na quarta à tarde recebemos dela a explicação para o seu silêncio prolongado: a sua casa havia sido bombardeada durante a madrugada e, poucas horas depois, por volta da hora de almoço, a última central elétrica de Gaza parou de funcionar, o que dificulta o carregamento de telemóveis e por isso as pessoas mantêm-nos desligados para usar em caso de emergência. “Não posso dizer que estou bem, normalmente é isso que se responde à pergunta ‘como estás?’, mas não estou muito bem. A minha casa ficou parcialmente destruída na última noite, a casa ao lado ruiu com os meus vizinhos lá dentro, e recebi notícia que dois amigos meus morreram ontem e eu não os vi uma última vez”.