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Guerra no Médio Oriente

Faixa de Gaza: a vida dentro de um retângulo onde os abrigos são colchões sobre a cabeça

Pelas ruas de Gaza, as pessoas movimentam-se com colchões sobre a cabeça. Têm duas utilizações principais: proteger dos destroços que possam cair dos prédios durante os bombardeamentos e uma outra, mais familiar em partes pacíficas do mundo, dormir. Quatro dias de ataques a Gaza, retaliação israelita pela incursão do grupo terrorista Hamas no sul de Israel, onde centenas de cidadãos foram assassinados, causaram danos graves em várias casas palestinianas, e algumas pessoas têm de estender os seus colchões na rua para passar a noite. Três palestinianos contam ao Expresso como é viver em Gaza - e como foi crescer num campo de refugiados dentro do próprio país

Distrito de Rimal na Cidade de Gaza
NurPhoto

Quando o sol se põe, a única fonte de luz em Gaza vem das bombas que Israel deixa cair sobre os prédios que o exército israelita alega ter identificado como esconderijos ou fábricas de armamento do Hamas, o grupo terrorista que governa o território e que no passado sábado conduziu uma campanha de horror no sul de Israel, matando de forma bárbara mais de mil de israelitas, incluindo crianças e idosos.

“De noite ouvimos os bombardeamentos, de dia vemos a destruição”, conta ao Expresso, a partir de Gaza, Shahd Tawfeq, de 26 anos, formada em Comunicação Social na Universidade Al-Azhar, agora encerrada. A comunicação é intermitente, quando existe. Começámos a falar com Shahd na terça-feira à noite, e na quarta à tarde recebemos dela a explicação para o seu silêncio prolongado: a sua casa havia sido bombardeada durante a madrugada e, poucas horas depois, por volta da hora de almoço, a última central elétrica de Gaza parou de funcionar, o que dificulta o carregamento de telemóveis e por isso as pessoas mantêm-nos desligados para usar em caso de emergência. “Não posso dizer que estou bem, normalmente é isso que se responde à pergunta ‘como estás?’, mas não estou muito bem. A minha casa ficou parcialmente destruída na última noite, a casa ao lado ruiu com os meus vizinhos lá dentro, e recebi notícia que dois amigos meus morreram ontem e eu não os vi uma última vez”.