Cada coligação governamental tem as suas divergências, choques e picardias. Mas, em Telavive, os típicos comentários velados e recados subtis foram substituídos por críticas vorazes e ataques sem filtros. Nos bastidores do aparentemente unido gabinete de guerra de Benjamin Netanyahu, dois ultranacionalistas têm-se atacado mutuamente e procurado descredibilizar um ao outro, com a expansão dos colonatos ilegais e o futuro político de cada um no foco das tensões no centro do governo de Israel.
Na segunda-feira, o ministro da Defesa Nacional, o controverso Itamar Ben-Gvir, pediu abertamente que o primeiro-ministro despeça o seu colega, o ministro da Defesa, Yoav Gallant, por considerar que o desmantelamento de um colonato na Cisjordânia é “uma derrota”, segundo citou o “The Times of Israel”. Antes, em fevereiro, Gallant dizia que Ben-Gvir “não faz parte da liderança que toma decisões” em questões de segurança.
Para Tiago André Lopes, professor na Universidade Portucalense e especialista em assuntos internacionais, a troca de críticas assemelha-se a “uma guerra de espadachins”, fomentada pelas ambições políticas e expansionistas de Ben-Gvir e dos ultraortodoxos que lidera.
“Nós só conseguimos entender Ben-Gvir se nunca nos esquecermos que ele é um cidadão ultraortodoxo e, portanto, não olha para a política como nós e como Gallant, ou mesmo Netanyahu, numa lógica racional do custo-benefício, mas antes numa lógica de missão quase teológica. Esta é uma missão bíblica que ele está a encabeçar”, explicou o docente e também comentador na CNN Portugal, em entrevista ao Expresso.
As tensões entre os colegas do executivo não são novas, antecedem a guerra iniciada a 7 de outubro. E não são surpreendentes, tendo em conta a complexa ginástica política que Benjamin Netanyahu fez para segurar o poder. A atual coligação responsável pelos destinos de Israel é composta por sete partidos: além do nacionalista Likud, de Netanyahu; incluiu os partidos sionistas e de extrema-direita Shas, Partido Sionista Religioso (Tkuma), Noam e Otzma Yehudit (Poder Judeu), de Ben-Gvir; o conservador mas antisionista Tora Unida; e o Unidade Nacional, de Benny Gantz, de centro-direita.