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Médio Oriente

A vergonhosa reabilitação de Bashar al-Assad

Mais de uma década após o início da repressão que espoletou uma guerra civil, o Presidente sírio continua no poder e está lentamente a ser normalizado pelos governos da região. Para os milhões de sírios mortos, desaparecidos e deslocados, o regresso de Assad à comunidade internacional é mais uma traição

MENAHEM KAHANA/AFP via Getty Images

Francisco Serrano

A

primeira vez que Wafa Mustafa viu o seu pai chorar foi na noite de 12 de fevereiro de 2011. Na televisão, corria a notícia de que Hosni Mubarak se demitira da presidência do Egito. Naquele primeiro ano de todas as convulsões, e como milhões de outros sírios sujeitos à violência autoritária do regime de Bashar al-Assad, Ali Mustafa, seguia com atenção os protestos que se espalhavam pela região. Ativista político nascido na cidade de Massiafe em 1962, no noroeste da Síria, Ali sempre incutira nas suas três filhas uma consciência política, encorajando-as a pensar no que significava viver sob o domínio autocrático da família Assad; primeiro com o pai, Hafez al-Assad, entre 1970 a 2000, e depois com o seu filho, Bashar al-Assad.