Já terá ouvido dizer que os ataques de sábado do grupo palestiniano Hamas contra Israel são mais um capítulo - mas, desta vez, muito diferente - de um conflito que se arrasta há décadas. Mas de que conflito se trata? Como começou? E em que é que o dia de sábado se diferencia? Vamos por partes.
O conflito tem cerca de 100 anos, desde o momento em que o Reino Unido assumiu o controlo do território conhecido como Palestina, com a derrota do Império Otomano na I Guerra Mundial. Com os fluxos migratórios da Europa para aquele território, e sobretudo os judeus a fugirem ao antissemitismo galopante, uma minoria judaica e uma maioria muçulmana passaram a compor então a população da Palestina. Aos poucos, começava a emergir um discurso nacional que se apoiava na identidade judaica. O Reino Unido tinha a incumbência de criar uma pátria judaica na Palestina, mas, desde o início, a iniciativa foi condenada pelos palestinianos (maioritariamente muçulmanos). O Movimento Nacional Palestiniano, que estava mesmo a nascer, passou a tratar como inimigos os judeus que chegavam.
O número de imigrantes judeus no território aumentou em grande medida entre as décadas de 1920 e 1940 e, sobretudo, durante o Holocausto. A fixação de cidadãos da comunidade judaica não foi pacífica, lembra ao Expresso Michel Gherman, professor na Universidade Federal do Rio de Janeiro e investigador na Universidade de Jerusalém, que se especializou em História dos conflitos dos regimes ditatoriais e autoritarismos, trauma e políticas do passado. "A questão israelo-palestiniana é uma questão eterna que divide Israel e Palestina. Na década de 1920, os grupos que serviram de inspiração para o Hamas produziram atos de violência em larga escala, por exemplo, em Jerusalém."