Guerra na Ucrânia

O coração de Modi que “sangra” por alegados atos de Putin e a tática “notável” usada no ataque ao hospital pediátrico (867º. dia de guerra)

Vladimir Putin teve de ouvir de Narendra Modi que o ataque a um hospital pediátrico faz o seu coração “sangrar”, mas os dois aliados aprofundaram o seu pacto de cooperação. Os investigadores do Instituto para o Estudo da Guerra acreditam que uma tática “notável e nova” esteve envolvida nos atentados por toda a Ucrânia. Eis os destaques do 867º. dia do conflito

Narendra Modi e Vladimir Putin
SERGEI BOBYLYOV

“Quando crianças inocentes são mortas, o coração sangra, e a dor é muito avassaladora.” A crítica velada aos ataques na Ucrânia, que, entre outros locais, atingiu um hospital psiquiátrico em Kiev, surgiu de um protagonista improvável. Trata-se de Narendra Modi, primeiro-ministro indiano e considerado pelo Ocidente um dos aliados do Presidente russo. Putin raras vezes foi publicamente criticado durante a guerra na Ucrânia por um líder de um país que a Rússia vê como amigo, observa a agência “Reuters”, que vê os comentários de Modi como surpreendentes.

Durante uma visita de Estado a Vladimir Putin, Modi, que nunca chegou a condenar a invasão da Ucrânia pela Rússia, disse ao líder do Kremlin que a morte de crianças inocentes em guerras, conflitos ou ataques terroristas “é muito dolorosa”.

“Seja uma guerra, um conflito ou um ataque terrorista, qualquer pessoa que acredite na Humanidade sofre quando há perda de vidas”, afirmou o primeiro-ministro da Índia. E Putin teve ainda de ouvir do aliado Modi que uma solução para a guerra na Ucrânia “não pode ser encontrada no campo de batalha", e que é preciso "encontrar a paz através de conversações”.

A terminar a viagem de dois dias, os altos responsáveis da Rússia e da Índia definiram nove áreas-chave para uma cooperação mais estreita, que vão desde a energia nuclear à medicina. Também afirmaram que pretendem aumentar o comércio bilateral, de forma a atingir 100 mil milhões de dólares até 2030.

A Ucrânia afirmou ter recuperado fragmentos de um míssil de cruzeiro russo Kh-101 no hospital pediátrico de Kiev, que foi atingido na segunda-feira, durante uma onda de ataques russos que matou pelo menos 44 ucranianos, incluindo quatro crianças, em todo o país.

De acordo com analistas do Instituto para o Estudo da Guerra, um think tank radicado em Washington, a Rússia usou uma tática “nova e notável” na onda de ataques com mísseis mais mortífera em vários meses. O objetivo, refere o instituto, seria maximizar os danos. Militares russos terão lançado mísseis de cruzeiro a altitudes extremamente baixas, não dando aos sistemas de defesa antiaérea tempo para responder antes de estarem perto dos seus alvos, explica o Instituto para o Estudo da Guerra . Um antigo porta-voz da Força Aérea Ucraniana, o coronel Yuriy Ihnat, disse que alguns dos rockets voaram a apenas 50 metros acima do solo.

Na véspera da cimeira da NATO, a China e a Bielorrússia iniciaram exercícios militares conjuntos a poucos quilómetros da fronteira polaca. As manobras, com o nome de código “Falcon Assault”, vão durar até 19 de julho, e decorrem num campo de treino perto da cidade de Brest, informou o Ministério da Defesa bielorrusso.

Na cimeira da NATO em Washington, os seus 32 Estados-membros - incluindo a Polónia - reunir-se-ão para discutir mais apoio militar e financeiro à Ucrânia.

Outras notícias a destacar:

⇒ A NATO assinou esta terça-feira um contrato de cerca de 700 milhões de dólares (647,4 milhões de euros) para a produção de mais mísseis Stinger, enquanto 22 aliados, incluindo Portugal, firmaram uma carta de intenções para fortalecer a cibersegurança.

⇒ O primeiro-ministro húngaro, Viktor Órban, garantiu ao presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, que não foi à Rússia em nome da União Europeia (UE), mas para conhecer "em primeira mão" a visão russa sobre paz na Ucrânia. "As nossas conversações [no final da semana passada em Moscovo, com o Presidente russo, Vladimir Putin], tal como em Kiev com o Presidente [ucraniano, Volodymyr] Zelensky, serviram o objetivo de conhecer em primeira mão a posição [...] sobre os vários assuntos importantes do ponto de vista da paz. Por conseguinte, não apresentei qualquer proposta nem formulei qualquer opinião em nome do Conselho Europeu ou da União Europeia", vinca Viktor Órban, numa carta enviada a Michel e também endereçada aos chefes de Governo e de Estado da UE.

⇒ A subsecretária-geral da ONU para os Assuntos Humanitários, Joyce Msuya, advertiu que visar hospitais constitui um "crime de guerra", falando numa reunião de emergência do Conselho de Segurança sobre os ataques da Rússia na Ucrânia ocorridos na segunda-feira. O Conselho de Segurança das Nações Unidas, do qual a Rússia detém atualmente a presidência rotativa, realiza nesta segunda-feira uma reunião de emergência a pedido de Kiev na sequência destes ataques, que atingiram um hospital pediátrico e uma clínica na capital e fizeram pelo menos 44 mortos, segundo o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.