Guerra na Ucrânia

Desencontro entre Ucrânia e Brasil no Japão gera troca de acusações: Zelensky ficou “desapontado”, Lula “aborrecido”

Zelensky diz que não se reuniu com Lula “porque não houve diligências”, Lula diz estar “chateado” porque Zelensky “não apareceu” no encontro marcado

Lula da Silva com o primeiro-ministro do Vietname, Pham Minh Chinh, o primeiro-ministro do Japão, Fumio Kishida, o secretário-geral da OCDE, Mathias Cormann, e Antonio Guterres, em Hiroshima
POOL

O encontro chegou a ter hora e local marcado, mas Volodymyr Zelensky e Lula da Silva abandonaram o Japão sem chegarem a encontrar-se.

Segundo o lado ucraniano, o encontro - que deveria ter acontecido à margem da cimeira do G7 em Hiroshima - acabou por não acontecer porque "não houve diligências" por parte de Lula da Silva. Já o lado brasileiro garante que foi Zelensky que “não apareceu” à hora marcada, admitindo Lula estar “chateado” com a situação.

Na conferência de imprensa que marcou o encerramento da cimeira este domingo, o Presidente da Ucrânia foi questionado pelos meios de comunicação social sobre a razão pela qual não manteve um encontro bilateral com o homólogo brasileiro, já que este foi um dos poucos chefes de Estado com quem não se reuniu pessoalmente à margem da cimeira do Grupo dos Sete e dos países convidados do chamado "sul global".

O chefe de Estado ucraniano sublinhou a importância de "estar unido" para fazer avançar a sua fórmula da paz, que também apresentou na cimeira do G20 do ano passado, em Bali, na Indonésia. "Estive em contacto com alguns líderes, mas não houve nenhum passo da parte deles", acrescentou, referindo-se à comitiva brasileira e dando a entender que poderá ter sido uma questão de problemas de agenda.

"Por vezes, no passado, trabalhámos muito bem e, hoje, precisamos de envolver o maior número possível de países", afirmou Zelensky, referindo que gastou "muito tempo" nestas conversações. "Encontro-me com quase toda a gente, em quase todo o lado, embora todos os líderes tenham os seus próprios horários e agendas", sublinhou.

Por seu lado, Lula da Silva afirmou esta segunda-feira numa conferência de imprensa antes de abandonar o Japão que o encontro não aconteceu porque Zelensky “não apareceu” à hora marcada. “Se ele teve um outro problema mais sério, um encontro mais importante, eu não sei. O dado concreto é que estava marcado aqui nesse salão às 15h15 o encontro com Zelensky. Esperámos, recebemos a informação de que eles se tinham atrasado e, enquanto isso, atendi o [chefe de Estado do] Vietname. Ele [Zelensky] foi embora e a Ucrânia não apareceu. Simplesmente foi isso que aconteceu”.

Respondendo às declarações feitas pelo homólogo ucraniano no dia anterior - que sugeriu que teria ficado “desapontado” com o encontro que não aconteceu -, Lula da Silva afirmou estar antes “chateado” com a situação.

E acrescentou: “Gostaria de me encontrar com ele e discutir o assunto [possível mediação de paz brasileira na guerra com Rússia]. Mas, veja, o Zelensky é maior de idade, ele sabe o que faz”. Haverá outras oportunidades futuras, disse.

Guerra "deve ser discutida" no Conselho de Segurança da ONU

Lula da Silva afirmou numa reunião com o secretário-geral da ONU, o português António Guterres, que a guerra entre a Rússia e a Ucrânia "deve ser discutida" no Conselho de Segurança da ONU, segundo fontes da presidência brasileira citadas pela agência de notícias espanhola EFE.

A reunião durou cerca de meia hora e decorreu no âmbito da cimeira do G7, na qual Lula criticou fortemente aquele órgão das Nações Unidas. A possibilidade de haver um plano de paz para a guerra na Ucrânia foi o tema central da reunião.

De acordo com o comunicado divulgado pela Presidência, Lula considera que o facto de o conflito não estar a ser tratado no Conselho de Segurança da ONU demonstra a necessidade de reformar aquele órgão.

O secretário-geral da ONU, por sua vez, afirmou que fóruns internacionais como o G20, que reúne as 19 maiores economias do mundo e a União Europeia e cuja presidência será assumida pelo Brasil no final deste ano, têm uma grande contribuição a dar para ajudar a resolver o conflito.

A reforma do Conselho de Segurança da ONU tem sido um tema reiterado nas sessões do G7 em que tem participado, em que tem sugerido a inclusão de novos membros permanentes para que o Conselho de Segurança "recupere a eficácia, a autoridade política e moral para lidar com os conflitos e dilemas do século XXI".

"Em 1945, a ONU foi fundada para evitar uma nova guerra mundial, mas os mecanismos multilaterais de prevenção e resolução de conflitos já não funcionam", disse no domingo, antes do encontro com Guterres.

Zelensky teve uma ronda intensiva de contactos bilaterais desde a sua chegada a Hiroshima no dia anterior, começando com um encontro com o primeiro-ministro indiano Narendra Modi e terminando hoje com o líder japonês e anfitrião da cimeira, Fumio Kishida, antes de visitar o Parque da Paz e de aparecer perante os meios de comunicação social no final da cimeira.

Os encontros bilaterais de Zelensky - que na cimeira procurou obter mais apoio sob a forma de armas e outras ajudas a Kiev, bem como o apoio ao seu plano de paz - incluíram também os líderes dos Estados Unidos, França, Itália, Reino Unido, Canadá, Austrália, Vietname, Indonésia e Coreia do Sul.