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Guerra na Ucrânia

“A guerra na Ucrânia exige ação e ele não é um homem de ação”, acusa a ‘millennial’ que já se atravessou no caminho de Guterres

Aos 34 anos, tentou disputar com o antigo primeiro-ministro português o lugar de topo na ONU, quando António Guterres reunia apoios para um segundo mandato. Um ano depois, o Expresso volta a falar com Arora Akanksha. E a ‘millennial’ não deixa pedra sobre pedra, acusando o secretário-geral de estar “sempre à margem” e de se sentar “confortavelmente em Nova Iorque”. “Foram necessários dois meses para ele se sentir envergonhado e agir”, atira, acrescentando que lhe falta coragem para dizer à Rússia que está a “violar” a própria Carta da ONU, de que o secretário-geral deveria ser o “guardião”

Arora Akanksha
CELESTE SLOMAN/THE NEW YORK TIMES/4SEE

Foi tudo no mesmo dia, talvez o mais duro de António Guterres enquanto secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU). Primeiro, o ministro russo dos Negócios Estrangeiros fez saber que Guterres não tinha tentado contactar o Presidente da Rússia, Vladimir Putin, desde o início da “operação militar especial” na Ucrânia. Depois, soube-se que mais de 200 antigos altos funcionários da ONU tinham escrito a Guterres, instando-o a assumir riscos para garantir a paz e acrescentando que a organização enfrenta uma ameaça existencial devido à invasão da Ucrânia por um dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança. A missiva, cujos signatários incluíam muitos antigos subsecretários das Nações Unidas, apelava mesmo à deslocação temporária do gabinete de Guterres de Nova Iorque para a Europa para assim estar “mais próximo das negociações necessárias”. E ainda na terça-feira da semana passada, Guterres apelou a uma pausa diplomática no conflito, durante a Páscoa ortodoxa, para a abertura de corredores humanitários, o que não foi respeitado.

Pressionado a agir, o antigo primeiro-ministro português almoçou esta terça-feira com o chefe da diplomacia russa e encontrou-se com Putin em Moscovo. Guterres já está em Kiev para um encontro, esta quinta-feira, com o Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky. Entre uma capital e outra, o Expresso voltou a falar com Arora Akanksha, a ‘millennial’ que no ano passado se quis atravessar no caminho de Guterres quando este reunia apoios para um segundo mandato à frente da ONU. Então com 34 anos e a trabalhar na organização, assumia a ambição de se tornar a mais jovem secretária-geral de sempre e a primeira mulher no cargo, mas não tinha grandes ilusões: tratava-se de uma autonomeação e não de uma candidatura apoiada por um Estado-membro. Então como agora, Akanksha não poupava Guterres e, desta vez, com a agravante de estar em curso uma guerra sem que, segundo críticas de diversos quadrantes, o secretário-geral esteja a intervir eficazmente para a travar.