Guerra na Ucrânia

Indústria da defesa com valorizações de dois dígitos desde o início da invasão da Ucrânia

Com a guerra na Ucrânia, as ações das empresas norte-americanas e europeias de defesa são das que mais valorizam, quando a generalidade das bolsas estão em queda

Foto: Getty Images

As principais empresas norte-americanas e europeias de defesa conhecem valorizações de dois dígitos desde o início da invasão da Ucrânia pela Rússia, em contraciclo com as perdas dos mercados bolsistas internacionais. As bolsas europeias mantiveram-se em terreno negativo na segunda-feira com Frankfurt a perder 1,98%, Milão 1,36%, Paris 1,31%, Madrid 0,99% e Londres 0,40%. Já o Euro Stoxx 50 terminou a cair 1,2% enquanto Wall Street perdia um pouco mais de 1% a meio da sessão.

A tendência de alta dos títulos dos setores relacionados com o armamento começou a acentuar-se em finais de 2021, quando a perspetiva do conflito começou a tornar-se latente. Os anúncios de reforço da despesa de defesa feitos pela Alemanha, que praticamente vai triplicar o gasto, pela França, entre outros países membros da NATO um pouco por todo o mundo, estão a alimentar a tendência de valorização deste segmento de empresas.

“O ETF iShares US Aerospace & Defense, o maior fundo mundial para o setor, com 34 empresas, subiu mais de 10% desde que as tropas russas invadiram a Ucrânia em 24 de fevereiro”, afirma Paulo Rosa, economista sénior do Banco Carregosa.

A líder mundial Lockeed Martin – que fabrica o avião de caça F-35, blindados ligeiros, mísseis, entre outros, – tem visto os seus os títulos valorizar à medida que os governos ocidentais anunciam o reforço na defesa. Desde o início do conflito, esta empresa valorizou 18% e o seu valor de mercado ronda os 125 mil milhões de dólares.

Já a número dois mundial, a Raytheon Technologies, empresa aeroespacial e de defesa, com uma capitalização bolsista de 150 mil milhões de dólares, viu os seus títulos subirem 8% desde o início do conflito. A Northrop Grumman, fabricante de aviões de caça e bombardeiros furtivos, sistemas de radar aéreos e terrestres, entre outros, com um valor de mercado de 73 mil milhões de dólares, valorizou 22%. Um dos drones que estão a ser utilizados para monitorizar o conflito da Ucrânia é o RQ-4 Global Hawk, fabricado pela que é a quarta empresa mundial do setor. Segue-se a número 5, a General Dynamics, com uma subida em bolsa de 12%.

“Embora os EUA e outros aliados ocidentais não tenham enviado tropas para a Ucrânia, têm fornecido armas fabricadas pela Raytheon e pela Lockheed Martin, por exemplo, como mísseis antitanque Javelin e mísseis antiaéreos Stinger”, acrescenta Paulo Rosa.

Empresas de “nicho” também valorizam

Os gigantes norte-americanos, porém, como como já vinham de máximos históricos, registam por vezes, progressões mais reduzidas do que outras empresas de “nicho” e de menor dimensão.

A Mercury Systems, uma das líderes em tecnologia de suporte à indústria aeroespacial e de defesa, posicionada de forma única na interseção de alta tecnologia e defesa, valorizou 36% desde o início do conflito”, adianta Paulo Rosa.

No mesmo “campeonato” das mais “pequenas” está a Kratos Defense & Security Solutions, uma empresa tecnológica de defesa com 2,56 mil milhões de dólares de valor de mercado. Esta empresa, que atua principalmente nas defesas antimísseis, comunicações por satélite e segurança/guerra cibernética, viu o título progredir 33%.

Thales "brilha" na Europa

Na Europa, o destaque vai para a francesa Thales, que valorizou 25% desde o início da guerra. A empresa, com um valor de mercado de 24, 6 mil milhões de dólares, e que retira metade do seu resultado do setor de defesa, fornece a eletrónica de defesa do avião de caça Rafale e fabrica a espingarda de assalto F90, em uso por vários exércitos ocidentais.

Já a britânica BAE Systems – a única empresa europeia nas dez maiores do mundo – progrediu 14%. A BAE Systems, que integra o consórcio europeu MBDA – em conjunto com empresas alemãs, francesa e italiana – fabrica também o míssil Mistral.

A italiana Leonardo, que também participa no MBDA mas com um valor de mercado que não chega aos 5 mil milhões de euros, subiu 13%. Já a Dassault, fabricante de aviões civis e militares, entre os quais o caça Rafale, cujo valor de mercado é de 56 mil milhões de euros, valorizou 5%.

Paulo Rosa nota que com o envio da NATO de mais tropas para os países membros do Leste europeu, perto da fronteira com a Ucrânia, as tensões geopolíticas em curso devem aumentar os stocks de defesa no longo prazo, já que os gastos globais com defesa devem aumentar se a guerra entre a Rússia e a Ucrânia se intensificar.

Além da Alemanha, que disse que o seu orçamento de defesa, agora, iria representar mais de 2% do seu PIB, vários aliados ocidentais planeiam aumentos no orçamento de defesa. O Japão também antecipa uma subida do seu orçamento de defesa em 2022 para mais de 1% do PIB pela primeira vez desde a década de 1960.

“O atual conflito provavelmente incentivará mais gastos na defesa, isso elevará as avaliações das principais empresas aeroespaciais, de defesa e de armamento. Num ambiente de orçamento de defesa crescente, os múltiplos das ações de defesa tendem a aumentar”, sintetiza o economista sénior do Banco Carregosa.

Vendas em alta

As vendas de armas e de serviços de carácter militar das 100 maiores empresas do setor cresceram 1,3% em termos reais em 2020 face ao ano anterior para atingir 531 mil milhões de dólares, revelam os dados mais recentes do Stockholm International Peace Research Institute (SIPRI). Isto no primeiro ano de pandemia, em que a economia mundial contraiu 3,1%.

Segundo o SIPRI, as vendas de armas das 100 maiores empresas registadas em 2020 representam um aumento de 17% face a 2015, o primeiro ano em que a lista do SIPRI inclui empresas chinesas. Cinco das dez primeiras empresas da lista são norte-americanas: Lockheed Martin, Raytheon, Boeing, Northrop Grumman e General Dynamics. No total, as 41 empresas norte-americanas listadas nas 100 maiores registaram vendas de 285 mil milhões de dólares.

Segue-se em sexto lugar a britânica BAE Systems, a única empresa europeia do top 10 da SIPRI, com vendas de 24 mil milhões de dólares.