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França

Numa França dividida, todos se unem contra Bardella (enquanto Bardella varre racistas para debaixo do tapete)

No derradeiro apelo televisivo ao voto no domingo, que não foi em jeito de frente-a-frente mas com entrevistas individuais, os partidos à esquerda do partido de Marine Le Pen resolveram transformar o candidato da extrema-direita numa ameaça “mortal”. Ainda assim, se derrotarem Jordan Bardella, não sabem como vão enfrentar o dia seguinte, porque uma aliança não é um Governo. O atual primeiro-ministro Gabriel Attal admite, sem admitir, que se tudo se dividir, até pode ele continuar: “Sempre estive comprometido com os franceses”

Jordan Bardella, candidato do Reagrupamento Nacional, ao lado do retrato da presidente do partido, Marine Le Pen
Getty Images

Não foi um debate (acalorado, como na passada semana) mas, antes, uma sucessão de entrevistas, individuais, em direto na France 2, aos candidatos das forças que vão disputar a segunda volta das legislativas francesas no próximo domingo.

O jovem rosto da extrema-direita, e grande triunfador do primeiro embate, Jordan Bardella, do Reagrupamento Nacional (RN), atacou logo de início o acordo entre os demais partidos (à esquerda e centro), que retiraram os candidatos dos círculos eleitorais onde ficaram em terceiro, numa espécie de “barragem republicana” que impeça, no domingo, uma vitória do RN. Bardella considerou-a “uma aliança que desonra” a política francesa, admitiu que é até “uma interferência de Emmanuel Macron” — e é verdade que o Presidente francês fez um apelo a uma “aliança ampla, claramente democrática e republicana” —, mas que não impedirá os eleitores que ele representa “de terem acesso ao poder”. 


Logo depois viu-se, e ainda de início, no momento mais delicado de toda a entrevista, quando foi confrontando com um sem-número de declarações racistas ou antisemitas (incluindo declarações negando o Holocausto) proferidas por candidatos da RN às legislativas. Jordan Bardella, não podendo negar, garantiu que a sua mão “não vai tremer” e defenderá os valores republicanos de liberdade, igualdade e fraternidade, “colocando-os [aos candidatos] para fora” do partido e da política.

No entanto, e tendo-lhe sido apontados 80 candidatos “problemáticos”, Bardella, agora sim, negou, assumindo que “são apenas quatro ou cinco erros de casting”, não podendo resumir-se naqueles “os perfis de altíssima qualidade dos nossos candidatos”.

Ao contrário do que se admitia na passada semana, o Reagrupamento Nacional poderá ainda vencer, sim, mas dificilmente triunfará com uma maioria, razão pela qual Jordan Bardella foi questionado sobre “como irá governar então?" O candidato preferiu dramatizar. “Se eu for o primeiro-ministro, serei primeiro-ministro de todos os franceses. Mas ao fim de uma semana o meu Governo cai com a votação de alguma moção de censura”, admitiu.