França

Eleições em França: “fim de uma era” com extrema-direita “às portas do poder”, segundo a imprensa francesa

Perante os resultados da primeira volta das legislativas, são vários os jornais que pedem que a coligação presidencial faça um apelo, sem ambiguidades, a que os seus eleitores votem num candidato de esquerda na segunda volta para impedir a extrema-direita de aceder ao poder

Yara Nardi/Reuters

Os jornais franceses destacam hoje o "fim de uma era", com a extrema-direita "às portas do poder" após os resultados da primeira volta das legislativas, apelando alguns à constituição de uma "frente republicana" para a segunda volta.

"O Reagrupamento Nacional (Rassemblement National (RN), em francês) está às portas do poder", lê-se na manchete do jornal 'Aujourd'hui en France', que, acompanhada por uma imagem da testa do líder do partido, Jordan Bardella, avisa que as projeções apontam que a extrema-direita deverá ficar "perto de atingir a maioria absoluta" na segunda volta.

"Estamos a assistir à paisagem política a recompor-se debaixo dos nossos olhos. E é um espetáculo assustador", lê-se no editorial deste jornal, que qualifica a decisão do Presidente francês, Emmanuel Macron, de dissolver a Assembleia Nacional como "um desastre autodestrutivo".

"É o fim de uma era", concorda o jornal económico “Les Echos”, que, na sua capa, fala num Reagrupamento Nacional "em posição de força" antes da segunda volta das legislativas, designadamente porque os "eleitores 'macronistas' terão dificuldade em dar os seus votos à esquerda".

"Se 43% dos eleitores de esquerda estão disponíveis para votar no candidato da maioria presidencial em caso de duelo com o Reagrupamento Nacional, só 31% dos eleitores da maioria é que estão disponíveis para escolher um candidato da Nova Frente Popular", avisa este jornal no seu editorial.

Perante este cenário, são vários os jornais que pedem que a coligação presidencial faça um apelo, sem ambiguidades, a que os seus eleitores votem num candidato de esquerda na segunda volta das legislativas para impedir a extrema-direita de aceder ao poder.

“Le Monde”, num editorial com o título "a urgência de uma frente republicana", lamenta que, na noite de domingo, vários responsáveis políticos da maioria presidencial tenha sido ambígua nesse apelo, dando o exemplo do ex-primeiro-ministro Edouard Philippe, que defendeu que "nenhuma voz deve ir para os candidatos do Reagrupamento Nacional nem para a França Insubmissa".

"Perante a gravidade da situação, este tipo de subtilezas são imperdoáveis: contribuem para banalizar o voto na extrema-direita, numa altura em que temos muito pouco tempo para tentar construir um último sobressalto, mobilizando todos os eleitores comprometidos com a República", lê-se.

Também o jornal de esquerda “Libération” defende que "só uma frente republicana poderá impedir o pior" na segunda volta, puxando para a manchete o título "depois do choque, unir-se em bloco", com uma imagem a preto e branco de Bardella.

"O chefe de Estado atirou a França para debaixo do camião, que está agora estacionado à frente da porta de Matignon [residência oficial do primeiro-ministro], à espera tranquilamente pela segunda volta. A única maneira de lhe fazer frente é criando uma frente republicana para a esquerda", defende o partido.

Também o jornal comunista “L'Humanité” considera que é agora necessário "fazer frente", acrescentando que só "um sobressalto republicano pode impedir a extrema-direita de aceder ao poder".

"A França não está condenada a viver um pesadelo. É verdade que o Reagrupamento Nacional está muito forte, mas não é invencível. Pode e deve ser derrotada. Se houver uma união dos eleitores, a União Nacional vai ser derrotada, na maior parte dos casos por candidatos da Nova Frente Popular. A esperança não morreu", lê-se no jornal.

Também o jornal católico “La Croix” salienta que, apesar de a primeira volta se ter traduzido numa "derrota pessoal" para Emmanuel Macron, ainda pode "surgir, de entre o meio da desordem atual, uma maioria que esteja à altura dos valores da República".

Um dos problemas para convencer os eleitores 'macronistas' a participar nessa frente republicana é a personalidade do líder da França Insubmissa, Jean-Luc Mélenchon, que, segundo o “La Croix”, "faz figura de espantalho" para vários eleitores.

É precisamente a figura do líder da França Insubmissa que o jornal conservador “Le Figaro” puxa para a capa, com a manchete "começa agora a batalha entre Bardella e Mélenchon" e uma imagem que retrata os dois líderes políticos.

No editorial, com o título "tragédia francesa", “Le Figaro” é muito crítico da decisão de dissolver a Assembleia Nacional tomada pelo Presidente francês, considerando que se traduziu num "desastre".

"Que campo de ruínas! O chefe de Estado tinha prometido 'travar o caminho aos extremos': nunca cresceram tanto", lê-se no jornal, que toma agora partido pela candidatura da União Nacional, considerando que a Nova Frente Popular (Nouveau Front Populaire, em francês) propõe uma "ideologia que levaria à desonra e à ruína do país".