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Espanha

Valência conta os mortos, limpa e reconstrói-se: é tempo de sarar as feridas causadas pela inundação bíblica

Dezenas de equipas de emergência e voluntários vindos de toda Espanha trabalham contra o tempo para limpar as zonas mais prejudicadas, onde o cheiro a putrefação começa a ser ostensivo, uma semana após a passagem da intempérie que inundou 15 mil hectares e afetou 190 mil pessoas

Membros da Guarda Civil espanhola passam a pente fino zonas onde acreditam que possam estar algumas das mais de oito dezenas de pessoas que continuam desaparecidas na região de Valência
Nacho Doce/Reuters

A localidade de Benetússer, na periferia oeste de Valência, arrasada há uma semana pela DANA (depressão isolada em níveis altos, na sigla espanhola), é uma comovedora panela de pressão que o sol aquece impiamente. Todos os municípios estão destroçados nesta zona edificada perto do leito do barranco do Poyo, de Paiporta a Catarroja. As poucas vias que as equipas de emergência podem usar são tomadas de assalto por veículos carregados de despojos e sucata, amiúde em números dramáticos de circo urbano, enquanto serpenteiam pelas escassas estadas circuláveis que as ligam ao mundo exterior.

As cheias deixaram um rasto descomunal que carcome a paisagem de um extremo ao outro, onde a terra se tornou puro lodo. Não há semáforos, passeios ou asfalto. Ruas inteiras, como a enlameada Avenida Miguel Hernández, estão desfeitas. O cheiro a lixo podre concentra-se em cada esquina. O número de vítimas cifrava-se em 219, quinta-feira, mas temia-se que houvesse mais. Há 93 pessoas desaparecidas.