Às sete da tarde, a noite já lançou a sua negra cortina sobre Valência enquanto a tormenta continua a congregar grandes nuvens no rio Turia que desce com o seu leito carregado para o mar Mediterrâneo. No passeio, enterrado na obscuridade, um grupo de jovens conversa com uma mulher, alheios às novas rajadas de chuva que se despenham contra a capital da destruição. Valência, a bela, que os diferentes governos locais quiseram converter em farol do comércio marítimo, é hoje uma cidade maltratada pela natureza e por uma orografia urbana extremamente negligente. Qualquer gota que caia do céu suscita o medo de que o cenagal em que se converteu a província volte a transbordar.
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Valência não está em guerra, mas parece ter sofrido um ataque nuclear: estivemos no epicentro da catástrofe
Entre os escombros, numerosas equipas de emergência trabalham dia e noite nas buscas de centenas de desaparecidos. “Se não lhe quiserem chamar mudanças climáticas, não o façam, mas assumam a responsabilidade pelo aumento da frequência e da violência das tempestades”, afirma ao Expresso o físico do Institut de Ciències del Mar do CSIC, Antonio Turiel. “Já advertimos em agosto que estávamos a criar uma bomba-relógio, que agora explodiu”