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Espanha

Entrevista ao presidente do governo catalão: “Amnistia não resolve o conflito histórico entre a Catalunha e o Estado espanhol”

É visível no rosto de Pere Aragonès que gosta de ser presidente da Generalitat, o executivo catalão. Assumiu esse cargo em 2020, aos 37 anos, tornando-se o mais jovem de sempre no cargo. Figura maior da Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), que disputa a primazia do nacionalismo com o Juntos pela Catalunha (JxC), de Carles Puigdemont, governa a região em minoria, pelo que não lhe falta experiência de negociação. Crente numa negociação bem-sucedida que reconduza o socialista Pedro Sánchez como primeiro-ministro espanhol, ressalva que não lhe dará apoio sem contrapartidas sólidas

Pere Aragonès é presidente do governo autonómico da Catalunha desde 2020
Arnau Carbonell

O presidente do governo autonómico (Generalitat) da Catalunha é um dos independentistas mais habituados a dialogar com o primeiro-ministro espanhol. Isto porque Pere Aragonès é dirigente da Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), que viabilizou a subida do socialista Pedro Sánchez ao poder em Espanha. Por sua vez, os socialistas têm negociado a votação dos orçamentos catalães do executivo minoritário da ERC. Ao receber o Expresso no Palácio da Generalitat, joia medieval de Barcelona que é sede do executivo catalão, Aragonès puxa pelos galões do que conseguiu fazer e assume que lhe agradaria ver esse espírito alargado à esfera do próximo Governo espanhol, cuja viabilização depende, entre outros, do seu partido.

Sendo certo que o historial dos últimos anos — aliado a gestos do Executivo, como os indultos aos políticos presos na sequência da intentona separatista de 2017 ou o uso das línguas co-oficiais no Parlamento — ajuda a que haja clima para dialogar, Aragonès alerta que isso não basta para assegurar os votos da ERC, de que Sánchez necessita para ser reconduzido depois de ter perdido as legislativas espanholas de julho último. A amnistia aos demais processados está praticamente assegurada, mas os nacionalistas também querem falar de referendo e de dinheiro.

O primeiro-ministro precisará ainda do apoio do Juntos pela Catalunha (JxC), partido de Carles Puigdemont, um antecessor que Aragonès gostaria de ver regressar à Catalunha. Rivais pelo voto nacionalista, une-os o sonho da independência.

A atual situação política em Espanha lembra-lhe mais “House of Cards”, “Sherlock” ou “The Crown”, séries de que sei que gosta?
Creio que é uma situação muito singular, que só se vê na realidade catalã e espanhola. Durante muito tempo Espanha não encarou a questão da Catalunha. Nos últimos quatro anos avançámos num processo de diálogo e negociação, mas Pedro Sánchez sempre tentou escapar a esse diálogo. E a cada eleição, depois de cada eleição, a Catalunha volta a estar sobre a mesa, como questão que nunca desaparece, e que um dia algum estadista espanhol terá de enfrentar e resolver com o povo catalão.