Com os 172 votos favoráveis que eram esperados e nem mais um, Alberto Núñez Feijóo fracassou na primeira tentativa de se tornar primeiro-ministro de Espanha. O chefe do Partido Popular (PP, centro-direita) só teve o apoio dos 137 deputados da sua bancada, dos 33 do Vox (extrema-direita) e dos deputados únicos da União do Povo Navarro (UPN) e da Coligação Canária (CC). Para ser investido precisava de 176, ou seja, maioria absoluta dos 350 deputados eleitos a 23 de julho.
Contra Feijóo votaram os 121 representantes do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE, centro-esquerda), os 31 da frente de esquerda radical Somar, os 7 da independentista Esquerda Republicana da Catalunha (ERC) e outros tantos do também independentista Juntos pela Catalunha (JxC), os 6 do Unir o País Basco (EHB, extrema-esquerda independentista, outrora ligada ao grupo terrorista ETA), os 5 do Partido Nacionalista Basco (PNV, nacionalismo conservador) e o único do Bloco Nacionalista Galego (BNG). Ou seja, 178.
Sexta-feira haverá nova votação, pouco depois das 13h (12h em Portugal Continental), em que a lei só exige mais votos a favor do que contra. Salvo surpresa, Feijóo voltará a falhar. Cabe então ao rei Filipe VI decidir se há outro candidato viável à chefia do Executivo, tudo indicando que indigite o socialista Pedro Sánchez, primeiro-ministro desde 2018 e líder da segunda força mais votada nas legislativas de há dois meses, precisamente atrás do PP.
O início do debate de investidura, terça-feira, pôs a contar o prazo constitucional de dois meses para formar Governo. Quer isto dizer que caso não haja uma investidura bem-sucedida até 26 de novembro, terá de haver novas eleições, a realizar a 14 de janeiro.
Para se manter no poder, Sánchez conta com o apoio do seu PSOE e do Somar, já aliados no Executivo cessante. Abertos ao diálogo com o socialista estão PNV, EHB, BNG e os independentistas catalães ERC e JxC. Estes fazem as exigências mais difíceis de assumir para o governante: amnistia dos envolvidos na intentona separatista de 2017 e referendo de autodeterminação da região.
Partidos não disseram nada de novo
A votação que confirmou o chumbo a Feijóo foi o culminar de um segundo dia de debate, em que intervieram quatro partidos, além do aspirante à governação. Todos reafirmaram as suas posições.
Quer o PNV quer o EHB (em basco, Euskal Herría Bildu, partido sucessor do Batasuna, que esteve ligado ao terrorismo da ETA) negaram apoio ao PP. Aitor Esteban, falando pelo PNV, explicou a Feijóo que nunca apoiaria um Governo sustentado pelo Vox.
Já quanto ao EHB, foi o líder do PP que se declarou orgulhoso de não contar com o voto de uma formação a quem acusa de ainda glorificar o terrorismo, e que nas eleições municipais de maio apresentou como candidatos antigos etarras que tinham cumprido penas por crimes de sangue. Momentos antes, a porta-voz do EHB, Mertxe Aizpurua, anunciou um “não rotundo” a Feijóo. “O senhor e o seu partido não são nem serão opção para os bascos e bascas.”
Pela UPN, Alberto Catalán declarou apoio a Feijóo e atacou os partidos independentistas bascos, ao passo que a deputada da CC, Cristina Valido, afirmou que embora vote a favor de Feijóo, estará disposta a negociar com Sánchez caso este venha a ser candidato a primeiro-ministro, após o fracasso do seu rival conservador.