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“Agenda reformista de integração europeia poderia ser o caminho para a democratização da Turquia”: entrevista a Yuksel Taskin

Numa entrevista ao Expresso, Yuksel Taskin, deputado na Assembleia Nacional da Turquia e vice-presidente do CHP (Partido Republicano do Povo) para as políticas sociais, explana o Estado da Arte no portão oriental da União Europeia sob governação de Tayyip Erdoğan há 21 anos. Um dos principais opositores do Presidente turco defende que “uma viragem para o oriente, com uma aliança à China e à Rússia”, poderia trazer pesados custos à democracia

Yuksel Taskin, deputado na Assembleia Nacional da Turquia e vice-presidente do CHP (Partido Republicano do Povo) para as políticas sociais
DR

Autocrítico do Kemalismo ortodoxo, é um dos rostos mais proeminentes a advogar pela social-democracia no maior partido da oposição, fundador da Turquia moderna. Autor de seis ensaios políticos e históricos, professor catedrático de ciência política e relações internacionais, na Universidade de Marmara em Istambul em 2017, foi saneado por ter denunciado o massacre do povo curdo levado a cabo pelo regime, através da petição pública, “Declaração da Paz”.

Em maio, após as eleições parlamentares e presidenciais, Taskin foi eleito deputado, apesar da dupla vitória eleitoral de Tayyip Erdoğan e a da coligação partidária de direita religiosa, nacionalista e conservadora, encabeçada pelo iliberal AKP (Partido da Justiça e do Desenvolvimento), suportada pelo neofascista MHP (Partido de Ação Nacionalista), o radical Hüda Par ("Partido de Deus"), herdeiro político do grupo armado fundamentalista Hezbollah e o negacionista e neo-otomano YRP (Partido da Prosperidade). O idealismo islâmico turco é o chão comum dos partidos que integram a coligação maioritária.

Neste contexto, seria possível que a Turquia recuperasse iniciativa no processo de adesão à UE?
O atual regime é muito próximo da Rússia e da China, suporta uma aliança autoritária, se o poder mudasse, as forças democráticas também se deveriam aliar. A agenda reformista de integração europeia poderia ser o caminho para a democratização da Turquia. A maioria das exportações turcas vão para países europeus. Historicamente, durante o império otomano, a Turquia comparava-se ao velho continente e espiava lá o seu futuro. O fundador do CHP, Mustafa Kemal Atatürk, defendia que a Turquia deveria seguir sempre as civilizações ocidentais. Queremos um país independente, com relações equilibradas entre pares. Uma viragem para o oriente, com uma aliança à China e à Rússia, custar-nos-ia a democracia.