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Eleições americanas 2024

Receita para uma ressurreição democrata: mais populismo económico, menos “elites litorais”, e alguns gramas de “América primeiro”

Um dia alguém vai terminar um artigo com a seguinte frase: “E foi assim que o Partido Democrata adotou o populismo como principal força motriz da sua renovação pós-Trump”. Esse texto vai contar a história de como, depois de uma derrota pesada, os democratas se viraram outra vez para a classe trabalhadora, desenhando políticas de fomento das atividades agrícola e industrial e criticando os exageros da globalização, como trocaram o discurso identitário pelo discurso contra a corrupção e se tornaram, também eles, políticos que colocam a América primeiro. Será esta a sinopse do futuro dos democratas?

Kamala Harris durante o discurso em que assumiu a derrota, em Washington
Elizabeth Frantz/Reuters

Ao ler a opinião publicada nos últimos dias, em alguns dos principais jornais e revistas de análise política do mundo, parece que os democratas sempre souberam o que era preciso para vencer. No geral, dizem, houve populismo a menos. Uma frase que deste lado do Atlântico faria manchetes. Mas os norte-americanos têm outra definição para este fenómeno.

É difícil entender que um tal alinhamento de ideias tenha falhado em fazer caminho até às cúpulas que organizaram a campanha de Kamala Harris, ou será que chegou e simplesmente ninguém quis ouvir? Ou será que vencer uma eleição com 109 dias de preparação seria sempre impossível?