A mais recente declaração financeira de Donald Trump foi apresentada na quinta-feira e, apesar de elucidar pouco sobre a riqueza pessoal do antigo Presidente, dá conta de que Trump continua a dever mais de 100 milhões de dólares (mais de 90 milhões de euros) devido aos três processos que perdeu no estado de Nova Iorque, mas também aponta para receitas consideráveis em propriedades imóveis e em livros - incluindo com uma bíblia.
Sobre os três processos em que Trump está implicado em Nova Iorque e que o obrigaram a pagar indemnizações milionárias, o antigo líder norte-americano declarou que deve 50 milhões de dólares de caução no caso de fraude fiscal contra a sua organização.
Os dois julgamentos sobre o caso de abuso sexual envolvendo a escritora E. Jean Carroll - no qual Trump foi considerado culpado de abuso sexual e, depois de se queixar e continuar a criticar Carroll em público, foi também considerado culpado por difamação - representam também um acréscimo no passivo de Trump. Nessa linha da declaração, Trump contabiliza uma dívida de “50 milhões de dólares ou mais” - embora o valor final decidido na justiça tenha atingido 83,3 milhões.
A entrega da documentação é obrigatória para candidatos a cargos federais e detentores de cargos públicos, inclui a descrição de bens, investimentos, fontes de rendimento e passivos, mas não obriga a que os candidatos entrem em grande detalhe sobre a sua fortuna pessoal - e, segundo o New York Times, Trump não esclareceu se as suas várias propriedades no ramo imobiliário deram lucro.
Apesar de o ramo imobiliário continuar a ser o que mais destaque tem na declaração financeira de Trump, já que foi esse o ramo onde o magnata se destacou, há também fontes de receita importantes para o candidato republicano a Presidente dos Estados Unidos, e para a sua candidatura. Por exemplo, na declaração encontram-se mais de um milhão de dólares em criptomoedas e NFT, um setor cujo apoio o ex-Presidente tem procurado cortejar - nomeadamente através da sua relação com Elon Musk, outro grande promotor deste tipo de produtos.
Sobre a sua rede social, a Truth Social (cuja empresa detentora é a Trump Media and Technology Group), que fundou depois de ter sido afastado do então Twitter na sequência da invasão ao Capitólio, em 2021, o ex-Presidente norte-americano declarou que possui 114 milhões de ações, o que corresponde a 65% da empresa e que atinge um valor superior a 50 milhões de dólares, embora este valor esteja dependente de como se comporta a empresa na bolsa.
Trump embolsa com Mar-a-Lago e livros, mas desconhece-se se os hóteis geraram lucro
Nos imóveis, a jóia da coroa é o famoso resort de Mar-a-Lago, na Flórida, para onde Trump foi viver depois de perder a Presidência dos EUA e onde ele e os seus apoiantes republicanos têm organizado eventos políticos - foi lá que apresentou a sua nova candidatura às presidenciais de novembro deste ano.
Trump declarou mais de 56 milhões de dólares em receitas relacionadas com o clube privado, um aumento de mais de quatro milhões de dólares em relação ao ano passado.
O ‘New York Times’ refere que o ex-Presidente coloca numa lista à parte muitas das suas empresas, como Mar-a-Lago ou um hotel em Miami que apresentou receitas de 160 milhões de dólares - contudo, não é especificado se estes negócios deram lucro e se Trump obteve algum salário com estes investimentos.
Os livros são outro motor de dinheiro para Trump e a sua campanha, desde os mais recentes aos mais antigos, que, anos depois, continuam a render. Por exemplo, o livro “Cartas a Trump”, um livro de cartas de celebridades ao ex-Presidente (que foi recentemente alvo de escrutínio devido a uma carta aparentemente falsa de Willie Brown) gerou 4,5 milhões de dólares. “Uma viagem MAGA”, outro livro sobre o modelo político nacionalista de Trump, valeu à campanha mais de meio milhão de dólares.
Porém, um dos itens mais curiosos e controversos da declaração financeira de Trump é a “Bíblia Greenwood”, uma versão da Bíblia promovida por Trump e pelo cantor Lee Greenwood, um apoiante dos conservadores. A Bíblia está à venda por 60 dólares no site da candidatura do líder republicano, mas uma versão assinada pelo próprio Trump pode ser comprada por uns módicos mil dólares (cerca de 908 euros).
A venda desta versão politizada do livro sagrado para o Cristianismo resultou em cerca de 300 mil dólares em receitas para Trump.
O livro mais famoso da carreira e vida de Donald Trump continua a ser, contudo, o seu “The Art of the Deal” (vendido em Portugal como “A Arte da Negociação”. Publicado em 1987, a publicação continua a gerar receitas em direitos de autor: gerou entre 50 mil e 100 mil dólares.
Trump também recebe uma reforma da Screen Actors Guild, a principal associação de direitos laborais no cinema e televisão. Teve uma curta carreira no cinema (os mais velhos recordar-se-ão das direções dadas a Kevin em “Sozinho em Casa”), e foi a figura principal em vários ‘reality shows’, como o “O Aprendiz”, e este currículo permitiu-lhe receber mais de 90 mil dólares em 2023.
Donald Trump não é a única pessoa mencionada na declaração financeira. A sua esposa, a ex-modelo Melania Trump, tem aparecido pouco na campanha do republicano à Casa Branca (e muito tem sido escrito na imprensa sobre essa falta de apoio), mas isso não a tem impedido de ganhar alguns milhares.
Em abril, a antiga primeira dama dos EUA marcou presença num evento de um grupo de republicanos homossexuais conservadores, os Log Cabin Republicans, que lhe pagaram mais de 230 mil dólares. O mesmo grupo pagou a Melania Trump 250 mil dólares por um discurso em 2022.