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Trump diz que os EUA querem um ditador: será possível um terceiro mandato presidencial nos EUA?

Nunca houve uma contestação séria ao limite constitucional de dois mandatos desde a adoção da 22ª Emenda, mas pode imaginar-se um mundo em que Donald Trump se mantenha no cargo sem ter de ser eleito uma terceira vez? Os analistas apontam os sinais de alerta

Donald Trump
Chip Somodevilla/Getty Images

A 22ª Emenda da Constituição dos Estados Unidos da América, que limita o número de mandatos presidenciais (um Presidente só pode ser eleito no máximo em dois mandatos de quatro anos), foi aprovada porque Franklin D. Roosevelt quebrou a longa tradição de dois mandatos estabelecida por George Washington. Apesar de Roosevelt ter sido um presidente popular, havia um consenso entre os americanos de que o seu líder não servisse como presidente permanente, mesmo que conquistasse a reeleição repetidamente. Antes da aprovação da 22ª Emenda, não havia limite para o número de mandatos que um presidente podia exercer. Até Roosevelt, havia uma norma informal que limitava os presidentes a dois mandatos, mas um presidente poderia legalmente recandidatar-se as vezes que quisesse. O presidente do Partido Democrata violou a norma informal e foi eleito para quatro mandatos. A 22ª Emenda foi aprovada para impedir que volte a acontecer.

Desde que a 22ª Emenda foi ratificada, nenhum presidente sequer aludiu à ideia de procurar um terceiro mandato. Era um tabu (até Donald Trump se ter tornado Presidente). Mas, como lembra Donald Nieman, professor de História, Direito e Política Modernos dos Estados Unidos na Universidade de Binghamton, “Trump tem lucrado com a quebra de tabus”, explica ao Expresso. O Presidente republicano foi o primeiro que refletiu em público sobre o possível cumprimento de mais de dois mandatos. “A sua conversa fiada sobre um terceiro mandato é análoga à sua recente conversa sobre tornar-se um ditador”, refere também ao Expresso Stephen L. Newman, professor emérito de política na Universidade de York (Toronto). São declarações que, não só “revelam a sua ignorância em relação à Constituição e à tradição política americana, e a sua total falta de respeito por ambas”, como “realçam a sua ambição, que não conhece limites”, vinca Newman.