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EUA

“Hoje, a direita americana está ideologicamente mais próxima da Rússia, da Turquia e da Hungria”

O sistema de valores da direita nos Estados Unidos está a alterar-se e a distanciar-se dos conservadores de outros países governados por essa família. Os politólogos alertam que o deslizamento ideológico pode ser difícil de reverter, mesmo depois de 2028

Donald Trump num comício no Arizona, em janeiro
Mario Tama

Em Manhattan, símbolo do mundo livre, Donald Trump foi comparado às SS nazis. Centenas de pessoas protestaram na cidade de Nova Iorque, segunda-feira, em apoio a Mahmoud Khalil, manifestante pró-Palestina da Universidade de Colúmbia, detido por agentes da imigração. Ocuparam a Federal Square, na zona baixa de Manhattan, não só exigindo a libertação de Khalil como mostrando cartazes com Trump a fazer uma saudação “Sieg heil”, em frente a uma cruz suástica.

Dois dias antes, as referências a um emblema da II Guerra Mundial, à aeronave Enola Gay (que lançou uma bomba atómica sobre o Japão) e às primeiras mulheres a passar no treino de infantaria da Marinha foram marcadas para serem eliminadas. A purga à base de dados do Departamento de Defesa americano inclui dezenas de milhares de fotografias e publicações online, atos que visam eliminar conteúdos relacionados com a diversidade, a equidade e a inclusão, segundo a Associated Press. Esta agência de notícias foi, entretanto, arredada da Casa Branca, por ordem do Presidente, nomeadamente por não ter adotado a designação “Golfo da América” para se referir ao Golfo do México. Os principais alvos da “limpeza” dos registos são as mulheres e as minorias, incluindo os marcos notáveis que alcançaram nas Forças Armadas.

E, se recuarmos mais um dia, o jornal “The New York Times” apresenta uma lista recheada de palavras que virão a ser excluídas no âmbito das agências federais. John Burn-Murdoch, jornalista e cronista do “Financial Times”, está convencido de que o ambiente de repressão instalado não faz lembrar qualquer outro período de governação conservadora nos Estados Unidos da América. Num artigo de opinião naquele jornal, coloca, por exemplo, George W. Bush e Tony Blair “ombro a ombro”, apresentando o argumento de que os conservadores americanos estão hoje mais distantes do que nunca dos seus homólogos europeus.