Após a tentativa de homicídio de que Donald Trump foi vítima no sábado à noite, durante um comício na cidade de Butler, na Pensilvânia, os serviços secretos dos Estados Unidos estão a enfrentar questões relacionadas com a segurança do evento. Uma das principais interrogações é a de como é que o atirador conseguiu aceder ao telhado de onde disparou os tiros que atingiram Trump na orelha direita.
À CNN, fontes policiais adiantaram que a investigação já em curso vai permitir perceber, por exemplo, se os serviços secretos dispunham dos meios adequados para proteger Trump e se foram seguidos todos os procedimentos de segurança ao despistar eventuais ameaças no local do evento, incluindo no edifício onde o atirador obteve uma posição estratégica.
O FBI está a investigar o incidente como uma tentativa de homicídio. O suspeito é Thomas Matthew Crooks, de 20 anos, de Bethel Park, na Pensilvânia, abatido no local do atentado. Pouco se sabe ainda sobre o jovem. Segundo o “New York Times”, não tinha antecedentes criminais e estava registado como eleitor republicano; em tempos, terá feito uma pequena doação Progressive Turnout Project, uma organização associada ao Partido Democrata.
Republicanos e democratas exigem respostas
O Senador Ron Johnson, ex-presidente da Comissão de Segurança Interna do Senado, afirmou à CNN que o tiroteio resultou de uma “falha de segurança” e defendeu que o Congresso deve realizar audiências e investigar o que aconteceu. Tanto o FBI como o Departamento de Justiça e os Serviços Secretos “devem ser totalmente transparentes sobre o ocorrido para garantir uma investigação completa e a confiança do povo americano”, sublinhou.
O congressista republicano Mike Turner, presidente do comité de Informações da Câmara dos Representantes, juntou-se aos apelos para que o Congresso investigue o incidente. “É nossa responsabilidade supervisionar este assunto. Os serviços secretos revelaram ontem um enorme compromisso em proteger a vida de Donald Trump, mas ao mesmo tempo ficou claro que houve uma falha na rede mais ampla destinada a garantir a sua proteção.” É necessário, por exemplo, perceber como é que o atirador chegou ao telhado de onde disparou os tiros, quais foram as “falhas de segurança” e se houve cúmplices. “Ontem, a nossa democracia escapou por um triz”, afirmou.
Ao início do dia, o Presidente da Câmara dos Representantes, Mike Johnson, já tinha anunciado que o Congresso irá realizar uma investigação completa do tiroteio para determinar se houve falhas de segurança.
Serviços secretos garantem que Trump tinha proteção adicional
Após o atentado, vários analistas criticaram as medidas de segurança dos Serviços Secretos nas principais estações de TV dos EUA, dizendo que não foram considerados os riscos que representavam os vários edifícios em redor do local do comício.
O congressista republicano Mike Waltz, da Florida, acusou o secretário da Segurança Interna dos EUA, Alejandro Mayorkas, de ter rejeitado medidas adicionais para proteger Trump durante a campanha presidencial em curso. “Tenho fontes muito fiáveis que me dizem que houve vários pedidos de aumento da proteção dos Serviços Secretos para o [ex-] presidente Trump, que foram recusados pelo secretário Mayorkas", escreveu o congressista numa rede social.
Anthony Guglielmi, porta-voz dos Serviços Secretos, negou as alegações: “é completamente falso que a equipa do ex-Presidente tenha pedido recursos de segurança adicionais que nós tenhamos recusado.” Guglielmi explicou que o serviço de segurança presidencial reforçou os recursos de proteção, tecnologia e capacidade operacional "devido ao ritmo acelerado das viagens de campanha” do candidato do Partido Republicano.
Entretanto, a Comissão de Segurança Interna da Câmara dos Representantes exigiu que Alejandro Mayorkas entregue os planos de segurança que foram implementados para proteger o local onde ocorreu o comício.
De acordo com o “Guardian”, Mark Green, presidente da comissão, enviou uma carta ao Departamento de Segurança Interna a solicitar vários documentos, entre os quais o plano de segurança do local do evento; comunicações entre o Departamento de Segurança Interna, os Serviços Secretos e o gabinete de Joe Biden sobre o reforço dos recursos de proteção desde novembro de 2022; protocolos dos Serviços Secretos para avaliar ameaças; e documentos que detalhem a coordenação entre estes serviços e as autoridades locais no comício de sábado. Além disso, são requeridas as informações que foram utilizadas para informar o Presidente Biden sobre o incidente.
Biden afirma que Trump já beneficia de “segurança elevada”
Em conferência de imprensa este domingo, Joe Biden disse ter conversado por telefone com Trump, a quem expressou as suas condolências pelo sucedido. O Presidente norte-americano reiterou que "não há lugar na América para qualquer tipo de violência" e esclareceu que ainda não há qualquer informação sobre as eventuais motivações do atirador. “Ordenei que esta investigação seja feita de forma completa e rápida, e os investigadores terão todo o apoio necessário para isso”, acrescentou, citado pelo “Guardian”.
Em relação às questões de segurança, Biden sublinhou que Trump, “como ex-presidente e candidato do Partido Republicano, já beneficia de um nível elevado de segurança” e que os Serviços Secretos “fornecem todos os recursos e medidas de proteção necessárias para garantir a sua segurança contínua”. O Presidente norte-americano assegurou que deu ordens aos Serviços Secretos para reverem todas as medidas de segurança para a Convenção Nacional Republicana, que começa na segunda-feira, e também ordenou uma investigação independente da segurança nacional no comício de ontem para avaliar exatamente o que aconteceu. “Vamos partilhar os resultados dessa investigação com o povo americano.”
A campanha de Trump está a fazer esforços para aumentar a segurança. De acordo com um memorando obtido pelo “Washington Post”, os principais conselheiros da campanha do ex-presidente disseram aos funcionários para se manterem afastados dos escritórios em Washington e West Palm Beach no domingo, uma vez que ambos os locais estão a ser avaliados na sequência do tiroteio. Também será reforçada a segurança na convenção republicana desta semana.
Rússia e aliados de Trump culpam Biden
O Governo russo culpou a administração de Biden por criar um clima que levou ao ataque a Trump. “O sistema político dos Estados Unidos tem mostrado ao mundo inteiro repetidos exemplos de violência dentro do país no quadro da luta política", afirmou este sábado, em declarações aos jornalistas, Dmitri Peskov, porta-voz do Kremlin, recordando várias situações em que presidentes norte-americanos foram assassinados ou ficaram feridos na sequência de tentativas de homicídio. O porta-voz sublinhou ainda que, “depois das várias tentativas de tirar Trump da corrida presidencial, seja por meios legais ou por difamação, ficou claro que a sua vida está em risco”.
Os principais aliados de Donald Trump também culparam o atual Presidente, alegando que a retórica de Biden e dos seus apoiantes ajudou a criar um clima que levou à tentativa de homicídio. “Não se trata apenas de um incidente isolado”, afirmou o senador republicano do Ohio, J.D. Vance, numa publicação nas redes sociais.
Na sua primeira declaração formal desde o tiroteio de sábado, a antiga primeira-dama Melania Trump afirmou, num comunicado de imprensa publicado na sua conta na rede social X, que “um monstro que considera o meu marido uma máquina política desumana tentou extinguir a paixão de Donald, o riso, a criatividade, o amor pela música e a inspiração”.
Condenação unânime
Vários líderes mundiais condenaram o incidente, caracterizando-o como um ato de violência política e uma ameaça ao processo democrático.
O secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, e o secretário-geral da ONU, António Guterres, condenaram a tentativa de homicídio de Trump. Os presidentes do Conselho Europeu, da Comissão Europeia e do Parlamento Europeu, Charles Michel, Ursula von der Leyen e Roberta Metsola uniram-se às críticas. Na rede social X, o chanceler alemão, Olaf Scholz, classificou o ataque como “ignóbil”, alertando para a ameaça à democracia que representa a violência política.
O presidente francês, Emmanuel Macron, manifestou indignação, juntamente com líderes de outros países como Giorgia Meloni e Pedro Sánchez. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, e o presidente chinês, Xi Jinping, também se pronunciaram, assim como líderes africanos.
O presidente polaco, Andrzej Duda, desejou uma rápida recuperação a Trump, e o novo primeiro-ministro dos Países Baixos, Dick Schoof, assim como o primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau, expressaram consternação, condenando a violência política como “inaceitável”.
O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, condenou veementemente o ataque na rede social X, expressando confiança na eficácia das investigações para levar os responsáveis à justiça e evitar, assim, os impactos negativos nas eleições americanas e na estabilidade global.
Em Israel, o atentado gerou várias reações na classe política, desde o governo até à oposição. O presidente de Israel, Isaac Herzog, enviou uma mensagem de apoio e condenação à tentativa de “acabar com a vida do ex-presidente norte-americano”.