O ex-líder da organização de extrema-direita Proud Boys Enrique Tarrio foi hoje condenado a 22 anos de prisão por orquestrar o ataque ao Capitólio norte-americano de 2021, a sentença mais longa neste caso.
A sentença contra o apoiante do ex-presidente Donald Trump é a mais severa de todas as que foram ditadas contra os líderes de grupos extremistas envolvidos no ataque ao Capitólio, superando as penas de 18 anos que o fundador dos Oath Keepers, Stewart Rhodes, e do também ex-líder dos Proud Boys Ethan Nordean receberam depois que os júris os condenaram por conspiração sediciosa e outras acusações.
O Ministério Público pedia 33 anos de prisão para Tarrio, considerado pelo juiz Timothy Kelly como o "líder máximo da conspiração" para impedir a certificação da vitória do Democrata e atual Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, nas presidenciais de 2020.
Ao contrário dos outros réus, Tarrio, nascido em Miami e filho de cubanos, não estava em Washington quando, em 06 de janeiro de 2021, uma multidão invadiu o Capitólio com o objetivo de interromper a certificação dos resultados eleitorais de 2020, mas foi responsável por liderar à distância a manobra violenta contra a Democracia do país.
"Se não tivermos uma transição pacífica de poder, não temos nada", afirmou hoje o Ministério Público na audiência em que foi lida a sentença e na qual Tarrio esteve presente, vestido com o tradicional uniforme laranja usado nas prisões norte-americanas.
Antes de ouvir a sua sentença e depois de vários familiares terem pedido misericórdia ao juiz, Tarrio também falou para expressar arrependimento pelo ocorrido e pedir perdão.
"Os acontecimentos de 06 de janeiro são algo que nunca deveria ser celebrado", uma vez que "foram uma vergonha nacional", disse o acusado, com a voz embargada.
Na sua intervenção, Tarrio acrescentou que Trump perdeu as eleições, uma visão totalmente oposta ao que defendiam os manifestantes no dia do ataque, que adotaram a falácia da fraude eleitoral - posição que o próprio Trump continua a defender.
O caso Tarrio -- e de centenas de outros semelhantes -- são um exemplo do caos violento alimentado pelas mentiras de Donald Trump em torno da eleição e de como as falsas alegações do magnata ajudaram a inspirar extremistas de direita que invadiram o Capitólio para impedir a transferência de poder.
"Não sou um fanático político. Infligir danos ou alterar os resultados das eleições não era meu objetivo", disse Tarrio.
"Por favor, tenha misericórdia de mim", apelou.
O juiz Timothy Kelly, nomeado para o cargo por Trump, disse que Tarrio foi motivado pelo "zelo revolucionário" para liderar a conspiração que resultou em "200 homens, preparados para a batalha, cercando o Capitólio".
Observando que Tarrio não tinha demonstrado qualquer remorso público pelos seus crimes anteriormente, o juiz declarou que uma punição severa era necessária para dissuadir futuras violências políticas.
"Isso não pode acontecer de novo. Não pode acontecer de novo", repetiu o magistrado.
Naquele dia, milhares de apoiadores de Trump quebraram janelas, espancaram polícias e invadiram as câmaras da Câmara e do Senado enquanto os legisladores se reuniam para certificar a vitória de Biden.
Tarrio, que liderou os Proud Boys de 2018 a 2021, observou o ataque a partir de um hotel em Baltimore, a cerca de 70 quilómetros do Capitólio.
Apesar da ausência no local, os procuradores defenderam que Tarrio, de 39 anos, organizou e liderou o ataque dos Proud Boys à distância, inspirando seguidores com o seu carisma e propensão à propaganda.
Enrique Tarrio não esteve no Capitólio porque dois dias antes havia sido detido ao chegar a Washington vindo de Miami devido a outro episódio polémico: a queima de uma bandeira com o 'slogan' "Black Lives Matter" numa igreja histórica da comunidade afro-americana durante um protesto em dezembro na capital norte-americana.
No momento da detenção, a polícia encontrou na sua mochila dois cartuchos de balas para armas de assalto com o logótipo dos Proud Boys.
Ele foi libertado com ordem de ficar longe de Washington, e as autoridades admitiram posteriormente que a sua detenção ocorreu para evitar possíveis atos de violência durante a marcha que Trump havia convocado para o fatídico 06 de janeiro de 2021, que acabaria com cinco mortos e mais de 140 polícias feridos.
Desde 06 de janeiro de 2021, mais de 1.100 pessoas foram detidas e acusadas. Mais de metade foram condenadas, a maioria a penas de prisão.