O Presidente dirigiu-se à América, esta quarta-feira, pouco passava das 2h da manhã nos Estados Unidos, com a eleição suspensa pelos resultados de pelo menos cinco estados. Mas não foi exatamente isso que disse.
“Quero agradecer o tremendo apoio. Um grupo de pessoas está a tentar tirar a vitória e não vamos permitir isso. Estamos prontos para uma grande celebração e de repente tudo foi suspenso. Íamos celebrar um sucesso tão grande, ganhámos onde não pensámos.”
É aqui que Trump começa a declarar vitória, ou quase, em estados onde as autoridades não a declararam ainda — e até em alguns estados onde é bem possível que não ganhe.
“Na Flórida ganhámos por muitos.”
Aqui Trump está certo. Foi com cerca de 51% do voto popular, mas foi: o atual chefe da Casa Branca ganhou a Flórida, um dos estados mais importantes nas presidenciais americanas.
“No Texas ganhámos.”
Também é verdade. Com uma margem um pouco mais larga, 52%, os Republicanos mantêm o estado.
“Também é claro que ganhámos a Geórgia — eles não nos podem apanhar.”
Aqui começam os problemas da declaração de Donald Trump ao país. Na Geórgia, a contagem de votos ainda não terminou, muito menos tinha terminado à hora do anúncio de Trump (cerca das 2h da manhã em Washington, mais cinco horas em Lisboa). Segundo a Fox News, houve um problema tecnológico na contabilização dos votos, pelo que só às 11h00, hora americana, 16h em Lisboa, haverá resultados oficiais.
A Geórgia é um dos estados que pode decidir a eleição a favor de Donald Trump, mas a vitória está longe de garantida. Pouco antes de Trump ter discursado, o The New York Times avançava 56% de probabilidades de vitória para Joe Biden neste estado.
“Também é claro que ganhámos a Carolina do Norte, não nos conseguem apanhar.”
Não, ainda não é claro. É certo que os Republicanos levam vantagem — o mesmo New York Times dá uma probabilidade de 95% de vitória para Trump —, mas a contagem não acabou.
“Também Arizona, ainda temos vida ali e alguém declarou que perdemos. É possível, mas ainda temos muitos votos para apanhar ali, é muito improvável que eles tenham razão. Há uma boa possibilidade de ganhar.”
O Arizona está fechado. E Trump perdeu. A Fox News foi das primeiras a avançar a derrota.
Para os Democratas esta é, aliás, uma tremenda vitória, que pode ser decisiva e dispensar a conquista da Pensilvânia, se vencerem outros dois battleground states, o Wisconsin e o Michigan.
Em 2016, os 11 votos do colégio eleitoral do Arizona foram para Donald Trump.
“E ainda podemos ganhar a Pensilvânia com uma votação tremenda. Com 76% do votos contados é quase impossível que nos ganhem.”
Não é certo que assim seja. É, porém, certo que Trump vai na frente, com cerca de 56% dos votos já contabilizados, mas há ainda muitos por contar. Os chamados early votings (votos antecipados), onde Joe Biden leva vantagem e que serão os últimos a ser contabilizados, podem desequilibrar essa balança. Num estado que, pela sua dimensão, é considerado decisivo entre os decisivos (Hillary Clinton perdeu-o em 2016), não haverá resultados antes de sexta-feira.
“Estamos a ganhar o Michigan — e olhei para os votos e pensei, uau! E nem precisamos de todos”
Donald Trump fecha as declarações de vitória de forma irónica. No Michigan, os resultados também só serão conhecidos na sexta-feira.
Juntamente com os acima citados Geórgia, Wisconsin e Pensilvânia, é no Michigan que a eleição presidencial se decide daqui para a frente. E, ao contrário do que diz Trump, todos os votos serão fundamentais.
O atual chefe da Casa Branca não se ficou pelos anúncios de vitória, e foi às ameaças em caso de derrota.
“Eu previ isto, não iam ganhar e iam levar-nos para tribunal. Isto é uma fraude ao povo americano. Nós ganhámos esta eleição. Agora vamos assegurar a integridade do povo. E vamos para o Supremo, queremos que todos os votos parem. Não queremos que descubram votos. Para mim é uma fraude. Para mim, já ganhámos. Quero agradecer a todos".
O vice-presidente, Mike Pence, fez um discurso ainda mais curto e contido, embora em tom semelhante: “Vamos ficar vigilantes. Eu acredito que estamos no caminho para a vitória e que vamos fazer a América grande outra vez.”
Artigo atualizado às 9h21 com os resultados conhecidos à hora em que Trump discursou. Acompanhe aqui em direto