A dois dias das eleições, quando algumas sondagens mostram uma aproximação do atual Presidente em um ou dois estados que podem ser decisivos, um novo - mas já prestigiado - site de informação lança a história do dia: “O plano de Trump para declarar uma vitória prematura.” Já lá vamos, ao plano. Para já o importante é registar o contexto: o “plano” tem como objetivo lançar uma “onda de fumo” na noite eleitoral, gerando entusiasmo entre os seus apoiantes. E abrindo espaço à contestação dos resultados eleitorais, caso Joe Biden, já contados todos os votos, acabe por ganhar as eleições em alguns estados decisivos.
A notícia é rapidamente citada nas televisões que fazem guerra ao Presidente, mas já há semanas que circula nos bastidores, mas não só: a revista The Atlantic fez capa da sua última edição há cerca de um mês com o mesmo cenário, só que levado ao extremo e contado em detalhe (incluindo um final dramático para a história): Donald Trump está determinado a não abdicar do cargo de Presidente, declarando uma fraude eleitoral e levando a América para um impasse total: ter, no dia da tomada de posse, no fim de janeiro, dois Presidentes a reclamar o lugar. Na verdade, não havia final para a história contada pela revista: é que este é um cenário do que ninguém sabe exatamente como sair.
Esse artigo, publicado há um mês, teria soado a uma mera teoria da conspiração. Mas ganhou contornos de realismo quando, nesse mesmo dia, Donald Trump recusou responder a uma pergunta quase banal: se aceitaria o resultado das eleições. Foi como deitar um fósforo para um barril de pólvora: o artigo e a inédita incógnita de um Presidente dos EUA desencadeou uma avalanche de comentários e artigos nos jornais, com títulos que pareciam saídos de um filme: “Cenário do apocalipse”; “Pesadelo da América”; “A ameaça republicana à República”; “A América pode desintegrar-se?”; “A nova guerra civil americana”.