EUA

Biden segue à frente por 6 pontos no Nevada e está empatado com Trump no Ohio. Está mesmo (quase) tudo em jogo

Joe Biden, o candidato democrata à Casa Branca, está a ganhar terreno em terrenos que costumam pender para os republicanos. Uma nova sondagem do "New York Times" coloca-o lado a lado com Trump no Ohio, um estado que o Presidente venceu por oito pontos em 2016. Até os democratas do Texas já começaram a sonhar. A última sondagem da página de análise política FiveThirthyEight coloca ambos empatados

Anadolu Agency / Getty

Joe Biden está a liderar nas sondagens no estado do Nevada e há um empate entre o democrata e o Presidente Donald Trump no estado do Ohio, que Trump venceu por oito pontos percentuais em 2016. Mesmo o Nevada, que votou em Hillary Clinton, apenas lhe deu uma vitória de 24.000 votos e desde 1988 que nenhum candidato (exceção feita a Barack Obama) vence por mais de quatro pontos. No Ohio, os republicanos venceram sete das últimas 12 eleições.

Biden aparece com 48% das intenções de voto no Nevada, contra 42% de Trump, e no Ohio o democrata soma 45% contra os 44% do republicano, segundo uma sondagem publicada esta quarta-feira pelo “New York Times” em parceria com o Siena College. A força eleitoral do democrata reside nas mulheres: por uma diferença de 11 pontos no Ohio e 14 no Nevada em relação ao apoio feminino a Donald Trump.

O tema pandemia continua a dominar a vida dos norte-americanos e tornou-se ainda mais preponderante quando o próprio Presidente revelou que estava infetado com o novo coronavírus. Desde então deu uma muito criticada volta no seu carro presidencial com vários membros dos serviços secretos lá dentro sujeitos a contágio e também resolveu sair do hospital ainda com diagnóstico positivo, o que também não foi bem aceite. Mais: quer debater no dia 15 com Joe Biden, mas o candidato democrata já disse que não acha bem que esse frente-a-frente se realize se Trump ainda não tiver a certeza que já não é contagioso.

Estas sondagens foram realizadas já depois de Trump ter anunciado o diagnóstico mas antes do seu regresso e por isso pode não ter ainda contabilizado o efeito que o seu relativo desleixo com a doença (que já matou mais de 200 mil norte-americanos) está a ter na sua popularidade.

Os números de aprovação de Trump no que diz respeito ao controlo da pandemia podem ser um dos fatores que mais estão a prejudicar as sondagens gerais do republicano. Uma sondagem divulgada a meio de setembro pela Ipsos mostra que dois terços do país acham que Trump agiu demasiado devagar para conter o vírus e não confiam no que ele diz sobre a pandemia.

Por uma margem de 10 pontos, os habitantes do Nevada inquiridos para a sondagem divulgada esta quarta-feira dizem confiar mais em Biden do que em Trump no que diz respeito às medidas para o controlo da pandemia. No Ohio essa vantagem é de oito pontos. No Nevada, 62% dos eleitores dizem que Trump não se protegeu a ele mesmo do vírus de forma adequada, um número que decresce, mas apenas um pouco, para 58% no Ohio. E fica uma pista para Trump, que gosta de multidões e funciona muito bem no meio delas: apenas 20% dos habitantes do Ohio concordam com grandes ajuntamentos durante as semanas que faltam de campanha, um número que, continuando baixo, ascende a 28% no Nevada.

Estes números vão de certo galvanizar os democratas no Ohio, um estado que não estava na lista de prioridades da equipa de Biden por ter adquirido um sólido pendor republicano nos últimos anos. Acresce que em 2016 70% dos votos do Nevada foram depositados antes do dia das eleições. Já no Ohio, mais de um quarto de todos os eleitores registados (dois milhões de pessoas) pediram que lhes fossem enviados os boletins de votos para casa.

A demografia dos estados pode ajudar a explicar algumas coisas: um mapa dos votos de Donald Trump em 2016 mostra que o atual Presidente teve a mais alta votação de qualquer republicano desde 1980 em 38 dos distritos e ficou em segundo noutros 22. Isto porque, segundo explicou à rádio pública do nordeste do Ohio Kyle Kondik, analista político local que edita o site de política Sabato’s Crystal Ball, há muitos eleitores caucasianos sem educação superior. “Os eleitores brancos com um curso estão a cair para o lado dos democratas mas os eleitores brancos sem um curso superior não. E há muitos representantes deste último grupo no Ohio.”

Mais do que economia, este analista acredita que a luta passou a ser cultural - e por isso Trump ainda tem hipóteses. “As pessoas estão a votar mais segundo grandes assuntos culturais: casamento entre pessoas do mesmo sexo, aborto e depois coisas mais difíceis de classificar como aquela coisa de [Colin] Kaepernick se ter ajoelhado durante o hino, coisas que têm que ver com o patriotismo e com a identidade nacional. O Presidente tornou o Partido Republicano culturalmente populista.”

No Nevada, como sempre, tudo se decide ao jogo. O nível de desemprego entre os trabalhadores sindicalizados na Culinary Union, o maior sindicato de trabalhadores de casino, estava em março nos 90%. É possível que isto prejudique Biden, visto como alguém que defende medidas mais restritivas de controlo da pandemia, mas, por outro lado, a grande fatia de população latina pode dar-lhe os números necessários, já que muitos tremem de medo com as políticas mais duras de Trump nesta área.