Dezenas de soldados da Coreia do Norte atravessaram a fronteira com a Coreia do Sul esta terça-feira. Os militares retiraram-se depois de tiros de advertência do exército sul-coreano. “Dezenas de soldados norte-coreanos atravessaram a linha de demarcação militar e recuaram para norte depois de terem sido disparados tiros de aviso” pelo Sul, declarou o Estado-Maior da Coreia do Sul.
A incursão ocorreu poucas horas antes da chegada do Presidente russo, Vladimir Putin, à Coreia do Norte para uma rara visita de Estado. Noutro incidente, vários soldados norte-coreanos ficaram feridos quando minas explodiram perto da fronteira, disse a mesma fonte.
Os militares realizavam trabalhos de desminagem e de colocação de minas ao longo da fronteira, mas “sofreram numerosas baixas em resultado de repetidas explosões de minas terrestres durante o trabalho”, afirma um responsável do Estado-Maior sul-coreano. Apesar disso, os militares do Norte “parecem estar a prosseguir as operações de forma imprudente”.
Putin vem assinar “documentos importantes”
O Presidente russo chega à Coreia do Norte na sua primeira visita ao país em quase 25 anos, estando previsto que o programa oficial decorra quarta-feira. O conselheiro diplomático do Kremlin (presidência), Yuri Ushakov, informou que Pyongyang e Moscovo vão assinar “documentos importantes”, mencionando “a possível conclusão de um acordo de parceria estratégica global”. Depois de Pyongyang, Putin é esperado no Vietname, outra ditadura comunista.
Nesta deslocação, Putin será acompanhado pelos ministros dos Negócios Estrangeiros, Serguei Lavrov, e da Defesa, Andrei Belusov, numa delegação que incluirá dois vice-primeiros-ministros e o diretor da agência espacial russa Roscosmos. A visita realiza-se a convite do líder norte-coreano, Kim Jong-un, que há nove meses se encontrou com Putin no Extremo Oriente russo com registo de elogios mútuos, mas não de acordos oficiais.
Segundo o Ocidente, Pyongyang utilizou as suas vastas reservas de munições para abastecer a Rússia em grande escala e, na semana passada, o Pentágono acusou Moscovo de utilizar mísseis balísticos norte-coreanos na Ucrânia. Em troca, segundo Washington e Seul, a Rússia forneceu à Coreia do Norte conhecimentos especializados para o seu programa de satélites e enviou ajuda para fazer face à escassez de alimentos no país.
Esforços por desligar
Nos últimos meses, a Coreia do Norte tem trabalhado no sentido de desmantelar as estradas e caminhos-de-ferro que ligavam o país ao Sul quando as relações entre as Coreias eram melhores. Pyongyang está também a reforçar as fortificações do seu lado, ao colocar minas, construir novas barreiras antitanque e limpar grandes áreas florestais, garantem os militares do Sul. “As atividades da Coreia do Norte parecem ser uma medida destinada a reforçar o controlo interno, nomeadamente ao impedir as tropas norte-coreanas e os norte-coreanos de desertarem para o Sul”, declarou o chefe do Estado-Maior.
É a segunda vez em menos de duas semanas que soldados norte-coreanos atravessam a linha de demarcação intercoreana, que separa os dois Estados. No passado dia 9, alguns entraram por breves momentos em território sul-coreano, retirando-se após avisos sonoros e tiros de advertência dos soldados sul-coreanos.
As duas Coreias estão separadas por uma zona desmilitarizada (conhecida pela sigla inglesa DMZ) com quatro quilómetros de largura. Os lados norte e sul estão fortemente fortificados, mas a linha de demarcação propriamente dita, situada no meio desta zona cheia de minas, está assinalada de forma simples.
Balões de excrementos
As relações entre Norte e Sul atravessam um dos períodos mais tensos dos últimos anos. Os dois países continuam tecnicamente em guerra, tendo o conflito de 1950-53 terminado num armistício e não num tratado de paz.
Nas últimas semanas, Pyongyang enviou para a Coreia do Sul centenas de balões carregados de lixo, como pontas de cigarro, papel higiénico e excrementos de animais. A intenção era retaliar contra o envio, por associações de desertores do Norte, de balões com panfletos hostis ao ditador Kim Jong-un e à sua família, dólares, séries e música sul-coreanas. Norte e Sul também instalaram altifalantes perto da fronteira com o objetivo de retomar as emissões de propaganda, suspensas desde 2018.