O ex-primeiro-ministro do Paquistão Imran Khan foi detido esta terça-feira num tribunal em Islamabad, disseram membros do partido do antigo chefe de Governo paquistanês, que enfrenta várias acusações de corrupção. Khan alegou que os casos judiciais a que responde, incluindo o que levou à sua detenção, são uma conspiração do atual Governo para o desacreditar.
Fawad Chaudhry, um alto responsável do partido Paquistão Tehreek-e-Insaf (PTI), disse que Khan foi detido nas instalações do tribunal por agentes do órgão anticorrupção do país. As autoridades de Islamabad, a capital, notarem que o caso em questão envolvia a transferência de terrenos para a Universidade Al-Qadir, perto de Islamabad, num esquema que terá envolvido a cedência de favores a Malik Riaz Hussain, um conhecido empresário do sector imobiliário.
Khan, de 72 anos, foi afastado do cargo de primeiro-ministro através de uma moção de censura apresentada no Parlamento paquistanês em abril de 2022. Na altura, alegou que o seu afastamento foi ilegal e provocado por uma conspiração ocidental e pelo envolvimento do poderoso exército do Paquistão, há muito suspeito de manipular a política do país para seu benefício.
Desde então, Khan tem protagonizado uma campanha feroz contra o Governo do seu sucessor, o primeiro-ministro Shahbaz Sharif, exigindo eleições antecipadas no país e colhendo o apoio de milhares de cidadãos descontentes com a influência excessiva dos militares e muito desgastados após sucessivas crises económicas. Numa materialização clara das tensões políticas inerentes a este conflito, Khan e quatro outras pessoas ficaram feridas em novembro do ano passado após um atirador ter atingido o veículo em que seguiam no leste do Paquistão durante um evento de campanha contra o Governo.
Chaudhry referiu que Khan foi arrastado para fora do tribunal e colocado num veículo da polícia, sublinhando que agora está sob custódia das forças de segurança e acrescentado que a sua detenção foi, na verdade, "um sequestro".
Na sequência da detenção, grupos de apoiantes de Khan invadiram instalações militares e saíram às ruas em larga escala. Na cidade de Rawalpindi, na província de Punjab, dezenas de pessoas com bastões na mão aproximaram-se do quartel-general do exército paquistanês, segundo imagens de vídeo partilhadas pelos meios de comunicação social. Os apoiantes também invadiram as residências dos oficiais militares nas cidades de Lahore e Peshawar, empunhando bastões e partindo janelas e portas de edifícios.
Desde terça-feira, mais de 1000 pessoas foram detidas devido aos protestos violentos, anunciou hoje a polícia paquistanesa, sendo que 130 polícias ficaram feridos e pelo menos uma pessoa foi morta na cidade de Quetta, no sudoeste do país. Na manhã desta quarta-feira, a polícia disse que pelo menos 2000 manifestantes ainda cercavam a residência incendiada do tenente-general Salman Fayyaz Ghani, um importante comandante regional em Lahore.
A autoridade para as telecomunicações do Paquistão bloqueou as redes sociais, incluindo o Twitter. O Governo também suspendeu o serviço de internet na capital Islamabad e em outras cidades. As aulas em algumas escolas privadas foram canceladas.
Em reação, os chefes da diplomacia norte-americana e britânica pediram na terça-feira o respeito pela lei e a Constituição no Paquistão: "Queremos ver uma democracia pacífica neste país. Queremos que a lei seja respeitada lá", frisou o ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, James Cleverly, acompanhado pelo seu homólogo norte-americano, Antony Blinken, lembrando o "relacionamento próximo e duradouro" do seu país com o Paquistão.
Khan deve comparecer hoje em tribunal para uma audiência, na qual será solicitada a manutenção do antigo primeiro-ministro sob custódia da justiça por até 14 dias.