Ásia

Operações de resgate ainda salvam pessoas 100 horas após o sismo: "Agora acredito em milagres"

Quase uma semana após o abalo inicial, as boas notícias no sul da Turquia e norte da Síria são escassas. O tempo está a esgotar-se, mas o trabalho dos socorristas no terreno ainda consegue surpreender e inspirar. Em revista, ficam alguns dos resgates mais memoráveis dos últimos dias

Resgate após o terramoto de 7,8 sentido esta madrugada na Turquia e na Síria
MAHMOUD HASSANO(REUTERS

Após o abalo inicial, na segunda-feira, as operações de resgate prosseguem nas regiões mais afetadas pelo sismo que devastou partes do sul da Turquia e norte da Síria, até ao momento vitimando pelo menos 22.375 mil pessoas.

As autoridades turcas referem que mais de 110 mil equipas de resgate estão a participar nos esforços, com mais de 5500 veículos, sendo que 95 países ofereceram ajuda a Ancara e Damasco.

A cada dia que passa, porém, a probabilidade de encontrar pessoas com vida debaixo dos escombros diminui significativamente, já que muitas não conseguirão resistir à falta de água ou às suas lesões.

Apesar disso, as redes sociais têm sido inundadas diariamente com vídeos de operações de resgate bem sucedidas, algumas delas concretizadas mais de 100 horas após o abalo sísmico que teve como epicentro a cidade turca de Kahramanmaras.

Esta sexta-feira, Zeynep Kahraman, uma mulher de 40 anos, foi resgatada na cidade turca de Kirikhan, após ter estado 104 horas debaixo dos escombros do edifício onde vivia.

"Agora acredito em milagres", disse Steven Bayer, o líder da equipa Internacional de Busca e Salvamento no local, citado pela Reuters.

O conceito de milagre é invocado com enorme frequência ao descrever este tipo de resgates, particularmente quando as pessoas salvas estariam à partida menos preparadas para lidar com situações de grande pânico.

É o caso, por exemplo, de Hazal Güner, uma criança turca de cinco anos que foi resgatada na cidade Hatay após ter estado 72 horas soterrada. Quando saiu, e lhe foi perguntado se queria beber água, a jovem olhou na direção da equipa médica e percebeu que precisava de ser examinada primeiro.

É também o caso de um bebé de apenas 10 dias salvo esta quinta-feira na província turca de Hatay ao fim de 90 horas debaixo de terra. O bebé, Yağız Ulaş, foi resgatado juntamente com a sua mãe, referiu a agência turca Anadolu.

Na terça-feira, de uma forma ainda mais dramática, a atenção do mundo prendeu-se numa bebé que nasceu debaixo dos escombros na região de Aleppo, na Síria, cuja mãe morreu durante o parto.

Segundo o jornal britânico The Guardian, a bebé já tem nome - Aya, que significa “sinal de Deus” em português. O seu estado de saúde melhora todos os dias, e ficará sob o cuidado de um tio-avô, já que, além da mãe, também o pai e todos os seus irmãos perderam a vida na sequência do terramoto.

Noutro resgate, Adnan Korkut, um jovem de 17 anos, foi salvo na madrugada de sexta-feira na cidade turca de Gaziantep após 94 horas debaixo dos escombros. À saída, o jovem abraçou a sua mãe e agradeceu a Deus, admitindo ainda que se viu obrigado a beber a sua urina para sobreviver.

Pouco tempo antes, a agência de notícias turca DHA relatou o resgate de uma criança de 10 anos, em Antakya, onde os médicos tiveram que amputar o seu braço para libertá-la, numa tragédia que já tinha vitimado os seus país e três irmãos.

Noutro dos casos mais partilhados nas redes sociais, um jovem sírio conseguiu gravar um vídeo esta enquanto estava soterrado no edifício onde vivia. No vídeo, pede ajuda a Alá e mantém-se esperançoso: “se este vídeo for partilhado, quer dizer que saí com vida”.

"Não são capazes de compreender esta sensação a menos que a tenham vivido. Só se tiverem estado debaixo dos destroços, aí conseguem compreender”, acrescentou.

Os humanos não foram os únicos afetados pelo sismo, e muitos animais de estimação ficaram igualmente soterrados e a necessitar de auxílio. As notícias e imagens que relatam operações de socorro a cães e gatos domésticos vão chegando a conta-gotas, oferecendo um refúgio, ainda que breve, à azáfama e sofrimento que se sente um pouco por todo o sul da Turquia e norte da Síria.

Apesar dos sucessos ocasionais, a tarefa dos especialistas em operações de resgate não será fácil a partir de agora, especialmente tendo em conta que as hipóteses de encontrar mais sobreviventes diminuem rapidamente à medida que os dias passam, com a taxa média de sobrevivência a cair para 6% até ao quinto dia neste tipo de catástrofes, segundo os especialistas citados pela Sky News.

Tendo em conta a última atualização oficial, o número de mortos na Turquia já chegou a 19.388, a que se somam as 3384 pessoas que perderam na vida na Síria, colocando o total de vítimas nos dois países nos 22.772. A Sky News dá também conta de 75 mil feridos entre os dois vizinhos no Médio Oriente.