América Latina

Eleições “não podem ser consideradas democráticas”: venezuelanos protestam, líder da oposição recusa oferta de asilo para “continuar a luta”

Organização não-governamental Carter Center considera que as eleições na Venezuela “não cumpriram as normas internacionais de integridade eleitoral e não podem ser consideradas democráticas”. Protestos contra o Presidente Nicolás Maduro continuam, com registo de pelo menos 11 mortos. Costa Rica disponibiliza-se para conceder asilo político ao candidato e à líder da oposição

Anadolu

Os protestos continuam na Venezuela, com manifestantes a saírem à rua um pouco por todo o país desde segunda-feira, exigindo que Nicolás Maduro reconheça que perdeu as eleições presidenciais realizadas no domingo para a oposição. Pelo menos 11 pessoas morreram em incidentes relacionados com a contagem dos votos ou com as manifestações, segundo o grupo de defesa dos direitos humanos Foro Penal.

As manifestações – que o Presidente venezuelano encara como uma tentativa de “golpe de Estado” – começaram depois de a autoridade eleitoral do país sul-americano ter declarado que Maduro venceu com 51% dos votos, conseguindo a reeleição para um terceiro mandato consecutivo. Já a oposição diz que o candidato Edmundo González Urrutia teve mais do dobro dos votos de Maduro, com base em 90% das contagens de votos a que teve acesso, e garante ter provas da sua “vitória esmagadora”.

O Carter Center, organização não-governamental sediada nos Estados Unidos, acompanhou a votação e anunciou na terça-feira que as eleições “não cumpriram as normas internacionais de integridade eleitoral e não podem ser consideradas democráticas”. “O facto de a autoridade eleitoral não ter anunciado resultados desagregados por mesa de voto constitui uma grave violação dos princípios eleitorais”, sublinha em comunicado.

Num discurso na terça-feira, Maduro acusou González Urrutia e a líder da oposição, Maria Corina Machado, de fomentarem a violência e anunciou um reforço do patrulhamento militar e policial, enquanto a Costa Rica indicou estar disponível para conceder asilo político aos dois representantes da oposição. Machado agradeceu, mas considera ter a responsabilidade de “continuar a luta”.

O Presidente venezuelano referiu também que foram detidas dez pessoas pelo derrube de uma estátua de Hugo Chávez, que liderou o país entre 1999 e 2013 – e que é o mentor de Maduro. Pelo menos sete estátuas foram atacadas, em cidades como La Guaira e Calabozo, de acordo com o “The Guardian”.

Apelando ao protesto pacífico, a líder da oposição destaca estar em causa o combate a uma “fraude do regime”. “Não temos medo”, tem cantado a multidão, agitando bandeiras venezuelanas. “Edmundo é o presidente. Sabemos que ele ganhou a eleição. Queremos viver na Venezuela que os nossos pais tiveram, onde não havia fome nas ruas”, disse a manifestante Andrea Garcia, de 27 anos, à Reuters.

Nas manifestações pró-Maduro, os apoiantes do Presidente celebram e referem que a eleição terminou. “Estamos aqui para apoiar pacificamente uma eleição que já deu o seu resultado”, afirma Carmen Torres, de 36 anos. Mas têm sido vários os países a questionar os dados e a Venezuela responde: o Governo suspendeu os voos para o Panamá e a República Dominicana e rompeu as relações diplomáticas com o Peru na terça-feira, depois de o Governo peruano ter reconhecido Urrutia como presidente eleito.

Entretanto, pelo menos mais dois membros da oposição foram detidos: o coordenador nacional do Voluntad Popular, Freddy Superlano, assim como Ricardo Estevez, um alto funcionário do Vente Venezuela, informaram os partidos. O alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Turk, manifestou-se “extremamente preocupado” com a crescente tensão no país.