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“Pessoas vão perder a vida” com corte de Trump da ajuda financeira à África do Sul

Em retaliação contra a lei de expropriação de terras, o Presidente dos Estados Unidos suspendeu cerca de €420 milhões em apoio anual a Pretória. O decreto de Donald Trump obriga os sul-africanos a confrontar-se, mais uma vez, com as feridas do apartheid e impõe-lhes um garrote financeiro com consequências potencialmente dramáticas no combate à sida. Duas investigadoras avaliam os impactos da medida e apontam um caminho para o Governo da África do Sul: “libertar-se da tirania da ajuda externa” e apostar em “soluções africanas para problemas africanos”

Ndenzeni Njwenene, 82 anos, come uma refeição noturna de couve e arroz com a filha Ntombelanga Mathshata, 49 anos, a 18 de dezembro de 2023, nos arredores de Mthatha, província do Cabo Oriental, África do Sul. Ntombelanga, a quem foi diagnosticado o VIH há vários anos, está frequentemente doente
Per-Anders Pettersson/Getty Images

Na sua redação, o decreto do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que suspende a ajuda financeira à África do Sul assenta em três motivações. É uma resposta à nova lei de expropriação de terras, que permite ao Governo de Pretória confiscar propriedades sem compensação em determinadas circunstâncias, mas também à ação legal sul-africana contra Israel e aos alegados laços com o Irão.

A lei de expropriação, promulgada pelo Presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, visa corrigir as desigualdades históricas na posse de terras, uma herança do apartheid, regime de segregação racial que vigorou durante quase meio século. Os críticos, como o multimilionário Elon Musk, conselheiro de Trump nascido na África do Sul, argumentam que a lei ameaça os direitos de propriedade, pode levar a abusos e é racista contra a minoria branca. A retaliação americana corresponde a um corte de cerca de €420 milhões em ajuda anual, incluindo fundos vitais para programas de combate à sida, e abre a porta à revogação da legislação AGOA, ao abrigo da qual alguns países africanos têm acesso preferencial ao mercado americano.