África

Mondlane chega a Moçambique, acesso ao aeroporto de Maputo condicionado pela polícia

O acesso ao aeroporto internacional de Maputo está hoje condicionado pela polícia, no momento em que regressou a Moçambique o candidato Venâncio Mondlane

Manifestantes protestam contra o processo eleitoral
LUÍSA NHANTUMBO/LUSA

O acesso ao aeroporto internacional de Maputo está hoje condicionado pela polícia, na hora do anunciado regresso a Moçambique do candidato Venâncio Mondlane.

Cerca das 06h20 locais (04h20 em Lisboa), quase duas horas antes do horário anunciado de chegada do político, que não reconhece os resultados das eleições gerais de 09 de outubro, ouviram-se alguns disparos nas imediações do aeroporto, cujos acessos, além de bloqueados pela polícia, se encontravam fortemente vigiados, inclusive por militares.

Nas vias de acesso ao aeroporto as viaturas estão a ser controladas pela polícia e impedidas de seguir em direção ao interior, por entre a chuva forte que se faz sentir desde o dia anterior e que provocou inundações na capital moçambicana.

O transporte dos passageiros que se destinam ao aeroporto, a partir dos pontos de bloqueio no exterior, está a ser feito por autocarros.

Mondlane aterrou entretanto em Maputo, praticamente dois meses e meio depois de deixar o país, tendo afirmado que, com o regresso a Moçambique, "não precisam de o perseguir mais".

"Estão a matar os meus irmãos, estão a sequestrar os meus irmãos", disse Mondlane, ao anunciar, no domingo, o regresso ao país, precisamente três meses depois das eleições gerais.

Mondlane anunciou ainda que o regresso marca o início da nova fase de contestação pós-eleitoral que denominou de "Ponta de lança".

"Se quiserem-me assassinar, assassinem. Se quiserem prender-me, prendam. Sei que na minha queda a fúria popular que se vai verificar em Moçambique não tem comparação na história de África e de Moçambique", disse.

Mondlane regressou através do aeroporto internacional de Maputo, às 08h05 locais (06h05 de Lisboa), e garantiu que a sua ausência permitiu que as manifestações e protestos avançassem.

Confrontos entre a polícia os manifestantes já provocaram quase 300 mortos e mais de 500 pessoas baleadas desde 21 de outubro, segundo organizações da sociedade civil que acompanham o processo.

"Não estive fora de Moçambique por medo, se estão a matar os nossos irmãos, se estão a destruir lojas dos nossos irmãos, estão a queimar bombas de combustíveis, estão a destruir armazéns, estão a queimar fábricas, alegando que são manifestantes quando não são, para criar ódio entre os irmãos, então se é por mim, se é por causa do Venâncio, então o Venâncio estará quinta-feira, às 08:00, no aeroporto internacional de Mavalane", afirmou, apelando à população para o receber no aeroporto de Maputo.

O Conselho Constitucional (CC) de Moçambique fixou 15 de janeiro para a tomada de posse do novo Presidente, que sucede a Filipe Nyusi.

Em 23 de dezembro, o CC, última instância de recurso em contenciosos eleitorais, proclamou Daniel Chapo, candidato apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder), como vencedor da eleição presidencial, com 65,17% dos votos, bem como a vitória da Frelimo, que manteve a maioria parlamentar.

O anúncio levou de imediato a novos confrontos, destruição de património público e privado, manifestações, paralisações e saques, mas na última semana, sem novas convocatórias de protestos, a situação normalizou-se em todo o país.

O Tribunal Supremo já afirmou, anteriormente, que não há qualquer mandado de captura emitido para Mondlane nos tribunais.

Mas o Ministério Público abriu processos contra o candidato presidencial, enquanto autor moral de manifestações que, só na província de Maputo terão causado prejuízos, devido à destruição de infraestruturas públicas, no valor de mais de dois milhões de euros.