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“Ainda somos uma democracia nascente, mas sabemos que não podemos revertê-la”, diz antigo primeiro-ministro da Tunísia

Mehdi Jomaa não quer aprofundar a situação atual no país cujo Governo chefiou, durante um ano, após a Primavera Árabe. Mas reconhece que, depois de uma década a “esperar dividendos da democracia, sem os ter”, o povo está na “fase da deceção”. O antigo governante quer acreditar que tal não corresponderá ao “reverso da democracia”. E diz ver a imigração como “uma oportunidade para África e a Europa”

Mehdi Jomaa, antigo primeiro-ministro da Tunísia e membro do Club de Madrid, nas Conferências do Estoril 2024
José Fonseca Fernandes

Foi primeiro-ministro da Tunísia entre final de janeiro de 2014 e início de fevereiro de 2015. Ou seja, Mehdi Jomaa iniciou o seu curto mandato cerca de três anos após os protestos que levaram à destituição de Ben Ali em janeiro de 2011. No poder desde 1987, o ditador fugiu com a mulher e os filhos para a Arábia Saudita, onde viria a morrer em 2019. O seu derrube foi o culminar da chamada Revolução de Jasmim, que serviu de rastilho à Primavera Árabe, durante a qual os então líderes da Líbia, Egito e Iémen também foram depostos.

Em entrevista ao Expresso, nas Conferências do Estoril 2024, Jomaa nunca se refere diretamente a Kaïs Saïed, o contestado Presidente que foi reeleito em outubro depois de, em 2021, ter aplicado um garrote na jovem democracia tunisina. Em vez disso, o atual membro do Club de Madrid – o maior fórum mundial de ex-chefes de Estado e de Governo – mostra-se apaziguador e esperançoso. “A minha experiência diz-me que a justiça vencerá e se houver alguma coisa errada, ela será identificada e condenada. Se não for hoje, será amanhã”, garante.