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Novos protestos em Moçambique: “A polícia está a matar pessoas no momento em que estamos a falar”

Os manifestantes voltaram às ruas no país, sob grande carga policial. A ativista Quitéria Guirengane conta ao Expresso como os diversos setores do Estado estão a falhar às pessoas, e fala de ações de “horror” mascaradas pela propaganda

Siphiwe Sibeko

Em Moçambique, a nova ronda de manifestações iniciou-se nesta quarta-feira e só acabará no fim de semana. Os casos de maior violência estão a acontecer no norte do país, e as imagens captadas mostram mais pessoas baleadas após episódios de violência policial. Quitéria Guirengane, 34 anos, “apaixonada pelos direitos das mulheres e dos jovens” e ativista política e social da Geração 18 de Março, não tem por estes dias mãos a medir, mas denuncia a indiferença do Estado: “É suposto Moçambique receber o jogo para a qualificação para o CAN 2025 na sexta-feira. Moçambique está mais preocupado com o jogo de futebol, com a penalização em multa que pode receber se não acolher esse jogo. Está a pedir uma mera trégua, para aparecer na fotografia, como se tudo estivesse bem. Há uma enorme campanha de propaganda, e decidiram oferecer 12 mil bilhetes para que as pessoas vão assistir ao jogo e possam mostrar ao mundo que Moçambique está bem, e que não se passa nada.”

Fala do encontro Moçambique-Mali, que esteve para decorrer à porta fechada. “Querem vândalos no estádio?”, interroga Quitéria Guirengane.“Qualificam os manifestantes como vândalos, não sei porque estão a convidar tantos vândalos para encher campos de futebol.”

O telefone não pára, tem sido difícil contactá-la por estes dias, dadas as pesadas restrições de internet, que estará a ser "controlada a partir do Comitê Central", afirma a líder do Observatório das Mulheres. “Temos redes como a TV CABO, que interditaram o acesso ao Facebook, temos redes que interditaram o acesso ao WhatsApp, há horas em que ninguém consegue entrar. Há conteúdos a que não se consegue ter acesso, e normalmente, quando se começam transmissões em direto que são consideradas atentórias ao poder do partido Frelimo, a internet é cortada.” A repressão tem estado a escalar no país africano. O comandante geral da polícia disse ser proibido, a partir de agora, o ato de protesto em Moçambique - que considerou como "terrorismo urbano" -, e adiantou que escolheria que órgãos de comunicação poderiam colocar-lhe perguntas. Já a Procuradoria-Geral da República veio a público dizer que há mais de 200 processos crime por incitação à violência e desobediência, entre outras figuras penais.