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África

Cabo Delgado: a fuga à morte que obriga a deixar tudo para trás

O Expresso esteve em Moçambique e ouviu relatos de quem perdeu tudo e ainda desconhece o destino de familiares. Elionia é uma das vítimas do terror que regressou a Cabo Delgado. Durante o ataque dos terroristas à sua aldeia, separou-se do marido, que não sabe se está vivo ou morto. Nas últimas duas semanas, mais de 58 mil pessoas foram forçadas a deixar as suas casas

Para escapar aos ataques há quem caminhe dias, como este grupo que se refugiou na escola de Namicire, na vila de Chiúre
Rui Celestino Minja

Texto de Estêvão Chavisso, jornalista da Lusa em Chiúre

Elionia Paulo tem o rosto enrugado pelo tempo. Não se lembra de quantos anos tem, mas recorda-se bem de quando fugiu sozinha da sua casa na aldeia de Mmala, na semana passada, mal ouviu os tiros dos rebeldes que, desde 2017, amedrontam a província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique. A imagem das horas que passava sentada no quintal com o marido e os filhos, após mais um dia de trabalho agrícola na machamba, causa-lhe hoje angústia.