Já tinha escurecido no caminho de Bafatá para Bissau. As três horas de viagem que ligam a segunda à primeira cidade da Guiné-Bissau parecem alongar uma distância não tão longa assim. São 150 quilómetros praticamente em linha reta, mas onde o asfalto por vezes falha, outras vezes desaparece por completo. O caminho é aos ziguezagues e a não mais de 40 quilómetros por hora. Os jipes empoeiram a paisagem, com as rodas a lutarem contra a terra batida. No breu, pequenos focos de luz surgem na berma. Ora fogueiras, ora lanternas. São os meios para suplantar a falta de energia elétrica, que atinge 70% da população – toda aquela que vive fora da capital. São as armas para continuar com a vida depois do pôr-do-sol.
Exclusivo
Guiné-Bissau, o país onde a democracia está a ser desmembrada na sombra dos olhares europeus
Saindo de Bissau, falta tudo. Falta água potável, saneamento e eletricidade. Faltam medicamentos, simples seringas, luvas e também energia nos hospitais. Faltam crianças e professores nas escolas. Falta asfalto nas estradas. E nos últimos tempos, depois da dissolução inconstitucional do Parlamento e sem novas eleições à vista, tem faltado também a democracia. Esta é uma reportagem no país que completou meio século de independência mas “caminha em contramão ao desenvolvimento”