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Eleições em Moçambique: oposição exige "posição vertical" do MP contra envolvidos na "fraude" eleitoral

Em causa estão as decisões de anulação do escrutínio de 11 de outubro por diferentes tribunais distritais, que alegam que o processo foi marcado por diversas irregularidades, com destaque para falsificação de editais, no caso da capital moçambicana

ALFREDO ZUNIGA/Getty Images

O candidato da Renamo na cidade de Maputo, Venâncio Mondlane, defendeu hoje que o Ministério Público deve acusar os envolvidos nas irregularidades que levaram à anulação de escrutínios em alguns pontos do país, como forma de desincentivar as fraudes eleitorais.

"A Procuradoria-Geral da República deve acusar muito rapidamente as pessoas que estiveram na origem, os autores, tanto morais como materiais destas falsificações (...) Se a PGR for vertical como os tribunais foram, isto vai realmente ser algo, digamos, inédito no sistema e pode ser o início da estabilização e de uma nova página na transparência dos processos eleitorais", declarou o candidato do principal partido de oposição em Moçambique, em entrevista à Lusa.

Em causa estão as decisões de anulação do escrutínio de 11 de outubro por diferentes tribunais distritais, que alegam que o processo foi marcado por diversas irregularidades, com destaque para falsificação de editais, no caso da capital moçambicana (Maputo).

O escrutínio foi anulado em pelo menos três pontos, nomeadamente Cuamba, na província do Niassa, Chokwé, na província de Gaza, e em dois distritos da cidade de Maputo, capital moçambicana, havendo outros recursos submetidos por partidos de oposição em várias outras autarquias contestando os resultados.

"Desde que nós começamos o nosso sistema multipartidário, este sempre foi, digamos assim, o `modus operandi´ do partido no poder", referiu o candidato da Renamo, que saudou a "posição vertical" dos juízes dos tribunais que anularam o escrutínio, mesmo sob alegada pressão política.

De acordo com o edital de apuramento intermédio apresentado na segunda-feira pelos órgãos eleitorais, na capital moçambicana, a lista da Frelimo na cidade de Maputo, liderada por Razaque Manhique, recolheu 235.406 votos (58,78%), a da Renamo, liderada por Venâncio Mondlane, 134.511 votos (33,59%) e a do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), liderada por Augusto Mbazo, 24.365 votos (6,8%).

As sextas eleições autárquicas em Moçambique decorreram em 65 municípios do país na passada quarta-feira, incluindo 12 novas autarquias, que pela primeira vez foram a votos. Segundo resultados distritais e provinciais intermédios divulgados pelos órgãos eleitorais nos últimos dias sobre 50 autarquias, a Frelimo venceu em 49 e o MDM na Beira.

O consórcio "Mais Integridade", coligação de organizações não-governamentais moçambicanas, acusou a Frelimo, partido no poder, de ter manipulado os resultados das eleições autárquicas do dia 11, protagonizando "um nível elevado de fraude".

"Com base na nossa observação e evidências recolhidas nas mesas de voto, notamos com preocupação que as sextas eleições autárquicas não foram transparentes, íntegras e imparciais", disse o diretor do Centro de Integridade Pública (CIP), Edson Cortez, que leu o comunicado "Roteiro da Fraude", com a posição daquele consórcio.

Dos 65 municípios, pelo menos dois tinham já anulado, por decisão de tribunais, o escrutínio devido as alegadas irregularidades, nomeadamente Cuamba, na província do Niassa, e Chokwé, na província de Gaza. Em Maputo, a votação foi anulada em pelo menos dois distritos, Nlhamaculo e Kampfumo.

A Renamo tem conduzido manifestações nacionais em protesto contra a alegada fraude no escrutínio de 11 de outubro.