Exclusivo

África

Onde a parede caiu ficou um miradouro para a desgraça: reportagem em Marrocos nas zonas mais atingidas pelo sismo

Histórias de perda multiplicam-se na região de Marraquexe. Aldeias continuam isoladas e o socorro não chega a todos os que precisam

Em Azro, à entrada da cordilheira do Atlas, só três casas não estão danificadas

Mouad desfaz-se num choro silencioso. Atira a irmã mais nova, que tem ao colo, para o primeiro par de braços que encontra, vira as costas ao que resta da casa onde cresceu e afasta-se. Deixa-se cair de joelhos, equilibrado no entulho de pedras e destroços de uma rua que conheceu toda a vida, leva as mãos ao rosto. O porte de homem feito, com as costas direitas e peito aberto, dá lugar à fragilidade de menino. Mouad tem 18 anos e irmãs de 15 e dois anos. Mouad, Soukaina e Bouchra estão sozinhos. O sismo matou-lhes a mãe e o pai.

Estamos em Anougal, vila no inte­rior das montanhas do Atlas, em Marrocos, a pouco mais de 60 km da cidade de Marraquexe e não muito longe do epicentro do sismo que há uma semana matou quase três mil pessoas. Não sobram casas, o cheiro intenso a podre no ar é dos animais mortos, cujos cadáveres estão soterrados nos escombros. As pessoas, acreditam, já foram todas resgatadas pelos homens da aldeia. Quanto às que não foram, acreditam também, já não há milagre possível. As mantas, cobertores, colchões, plásticos e oleados que conseguiram retirar do meio das ruínas são paredes e tetos de um acampamento erguido por imposição da catástrofe. Há já uma certa rotina instalada.