Exclusivo

África

Marrocos só aceitou ajuda de alguns países. A geopolítica conta mais do que a necessidade? Pode não ser bem assim

O lançamento de uma missão humanitária é processo logístico que envolve autorizações, burocracia, recolha de informação, milhares de euros disponíveis imediatamente, transporte de toneladas de mantimentos e equipamentos. Marrocos aceitou ajuda de menos de uma dezena de países e tem preferência clara pelos que reconhecem a sua soberania sobre o Sara Ocidental. Se parte da escolha é política, outra pode ser só pragmatismo. Um arabista, um jornalista marroquino e um veterano do auxílio médico em cenários extremos explicam ao Expresso esta decisão controversa das autoridades marroquinas

TIAGO PETINGA

Nas altas montanhas da cordilheira Atlas, que atravessam a região central de Marrocos, as vigas de madeira e os tijolos de terra e palha de que são feitas as casas pouca força conseguiram demonstrar contra a natureza, que fez a terra tremer com a intensidade de 6,8 na escala de Richter. Há terramotos mais fortes, mas o da noite de 8 para 9 de setembro estalou a pouca profundidade, mesmo debaixo do chão onde, durante segundos, ninguém conseguiu equilibrar-se.

As imagens filmadas por drones que chegam aos noticiários a cada hora mostram planícies inteiras de entulho indefinível. Aquilo já foram casas? Creches? Supermercados? Mesquitas? Há mais de 2800 mortos e 2500 feridos. As autoridades garantem estar a proceder a uma “avaliação rigorosa das necessidades no terreno”, mas a ajuda ainda não chegou a todo o lado. As zonas mais isoladas, cujo acesso se faz por estradas íngremes, muitas ainda cheias de pedaços do que ruiu, são as que mais sofrem.