Ao contrário de outros países europeus - como França, Itália, Portugal e o Reino Unido -, a Rússia nunca teve presença colonial em África. O passado histórico russo de maior violência está acima de tudo ligado à Ásia Central, à região do Cáucaso e Europa de Leste. Alguns analistas acreditam que, também por esse motivo, a Rússia sempre conseguiu manter relações afáveis com vários países africanos. “A Rússia percebeu que pode ganhar influência em África defendendo autoritários africanos isolados, em fóruns internacionais, e opondo-se ao Ocidente”, explica ao Expresso Joseph Siegle, que lidera as investigações e comunicações estratégicas do Centro de Estudos Estratégicos de África, e que estuda o papel de “atores” estrangeiros - incluindo a Rússia - no continente africano.
As coincidências ideológicas sempre assentaram numa desconfiança face ao Ocidente, mas a Guerra na Ucrânia dividiu o continente africano. Na primeira votação das Nações Unidas, sobre a invasão que começou a 24 de fevereiro de 2022, 141 dos 193 Estados-membros votaram em peso para reafirmar a soberania da Ucrânia e para exigir a retirada imediata das tropas russas. Entre os 54 Estados africanos representados, 28 pronunciaram-se no mesmo sentido que a maioria da assembleia. Já na segunda votação, apenas 19% dos Estados africanos votaram a favor da suspensão da Rússia do Conselho de Direitos Humanos da ONU. Na terceira ronda de votos, mais de metade dos Estados africanos optaram por não reconhecer a anexação de quatro regiões da Ucrânia pela Rússia. Aliás, a Organização das Nações Unidas observou, em comunicado, que a maioria das abstenções provinha de países de África.