O chefe do exército sudanês assegurou hoje que "a vitória, sem dúvida, está próxima" e que os soldados estão preparados para lutar até ao fim contra o grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês).
"As Forças Armadas estarão prontas para lutar até à vitória, os rebeldes não poderão governar este país e a vitória, sem dúvida, está próxima", declarou o general Abdel Fattah al-Burhan, num comunicado divulgado pelo exército, acompanhado por imagens do general a ser aplaudido pelos seus soldados durante uma visita a uma base militar em Cartum.
Al-Burhan ameaçou que o exército "ainda não utilizou toda a sua força letal, mas poderá ser obrigado a fazê-lo se o inimigo se recusar a obedecer ou a ouvir a voz da razão", e afirmou que as suas tropas "asseguraram o controlo de todas as partes do país".
Sobre a extensão de cinco dias da trégua acordada na noite de segunda-feira, o líder de facto do Sudão disse que o pacto foi alcançado para prestar serviços humanitários às pessoas afetadas "pelas violações das milícias rebeldes", que acusam de matar civis, saquear os seus bens e utilizar instalações vitais como guarnições.
As RSF têm vindo a fazer as mesmas acusações às Forças Armadas desde o início do conflito, que foi desencadeado em 15 de abril por uma luta pelo poder entre Al-Burhan e o líder militar Mohamed Hamdan Dagalo, conhecido como "Hemedti", no âmbito de um processo de reforma militar integrado na transição democrática do Sudão.
Ambos os grupos se comprometeram a respeitar os sucessivos cessar-fogos, mas até agora todos foram violados, embora representantes do exército e das RFS estejam a negociar na Arábia Saudita uma trégua mais duradoura.
Crianças precisam de ajuda humanitária urgente
O conflito no Sudão elevou para 13,6 milhões o número de crianças que precisam de ajuda urgente para preservar as suas vidas e conduziu a "níveis catastróficos" a situação humanitária que já "era terrível", alertou hoje a UNICEF.
Este novo número é considerado "o mais elevado alguma vez registado naquele país" africano, em resultado da continuação dos combates que começaram a 15 de abril entre o exército regular e o grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido (RSF, sigla em inglês).
"A necessidade de assistência humanitária é mais importante do que nunca para as crianças no Sudão, onde as pessoas mais vulneráveis estão a lutar para sobreviver e se proteger e é cada vez mais difícil garantir o acesso às necessidades básicas", afirmou a diretora regional da UNICEF para o Médio Oriente e Norte de África, Adele Khodr, em comunicado.
Adele Khodr sublinhou que os combates das últimas seis semanas no Sudão deslocaram mais de um milhão de pessoas, incluindo 319.000 que atravessaram a fronteira para os países vizinhos, cerca de metade das quais são crianças.
"A situação, que já era terrível para as crianças antes do conflito, atingiu agora níveis catastróficos, com o acesso a alimentos, água potável, eletricidade e telecomunicações pouco fiável, inacessível e incomportável", acrescentou.
Khodr sublinhou ainda a necessidade de aumentar o tratamento das mais de 620.000 crianças que sofrem de desnutrição aguda no Sudão e avisou que, "sem uma resposta humanitária imediata e abrangente, as consequências da deslocação, da falta de serviços sociais básicos e de proteção terão efeitos devastadores a longo prazo nas crianças".
E afirmou que, apesar da situação "difícil" e da "insegurança", a UNICEF continua a operar no Sudão, onde tem sido capaz de fornecer, "juntamente com os parceiros, os tão necessários suprimentos de saúde, água, saneamento e nutrição em todo o país".
O Sudão, que sofre de numerosos problemas económicos, sociais e de saúde desde antes do conflito, faz parte de uma lista de 22 países onde se espera que a insegurança alimentar aguda aumente em magnitude e gravidade nos próximos seis meses, afirmaram a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e o Programa Alimentar Mundial (PAM).
"As crianças do Sudão merecem uma oportunidade de sobreviver e prosperar (...) todas as partes não devem poupar esforços para proteger as crianças e os seus direitos", concluiu a Unicef.