Internacional

Tribunal ordena prisão de rival político de Erdogan em madrugada de protestos, Governo suspende autarca de funções

Um juiz ordenou este sábado a prisão por corrupção do presidente da câmara de Istambul, Ekrem Imamoglu, cuja detenção na quarta-feira desencadeou uma onda de protestos na Turquia, disse um dos seus advogados

Protestos Turquia
Burak Kara

Acusado de corrupção e terrorismo, Imamoglu, principal rival do Presidente Recep Tayyip Erdogan, foi levado no sábado à noite com 90 dos seus coarguidos para o tribunal de Caglayan, em Istambul. Imamoglu foi ouvido duas vezes durante a noite pelo tribunal, para onde foi transportado sob forte presença policial, segundo a agência francesa AFP.

O Ministério Público tinha requerido que Imamoglu ficasse em prisão preventiva, remetendo para o tribunal a decisão sobre se o principal opositor do Presidente da Turquia seria acusado e ficaria na prisão enquanto aguarda julgamento.

Nas últimas horas, o líder da oposição turca foi provisoriamente suspenso das suas funções na sequência da ordem de prisão preventiva emitida hoje, anunciou o Ministério do Interior turco.

Num comunicado publicado na sua conta da rede social X, o ministério liderado por Ali Yerlikaya anuncia que Ekrem Imamoglu está "suspenso das suas funções pelo Ministério do Interior como medida temporária, de acordo com o artigo 127 da Constituição".

Dezenas de milhares de pessoas concentraram-se no sábado, pela quarta noite consecutiva, em frente à autarquia de Istambul para apoiar Imamoglu. A multidão tornou-se ainda mais densa e numerosa, invadindo os comboios do metro e os arredores congestionados do edifício da Câmara Municipal, agitando bandeiras e cartazes que expressavam a sua ira: "Os ditadores são cobardes", "O AKP (partido no poder) não nos vai silenciar".

Imamoglu foi levado ao início da noite. A polícia interrogou Imamoglu durante cerca de cinco horas no sábado, no âmbito de uma investigação sobre alegações de auxílio ao ilegal Partido dos Trabalhadores do Curdistão, informou o jornal Cumhuriyet.

Apesar das restrições de acesso, mais de mil pessoas aglomeraram-se durante a noite nas imediações do tribunal de Caglayan, protegido por um forte dispositivo policial. Destacada em grande número, a polícia começou a dispersar a manifestação pouco depois das 00:00 de hoje (22:00 de sábado em Lisboa), usando gás lacrimogéneo e granadas de aturdimento, depois de alguns incidentes com jovens manifestantes.

Em Ancara, a capital, os manifestantes foram repelidos com canhões de água, e em Esmirna, a terceira maior cidade do país, a polícia bloqueou os estudantes que tentavam marchar até às instalações do partido AKP, no poder.

O Presidente Erdogan, dirigindo-se no sábado à noite aos membros do seu partido, acusou a oposição de ter feito "tudo o que era possível nos últimos quatro dias para perturbar a paz da nação e dividir o povo". O governo civil de Istambul prolongou até 26 de março a proibição de manifestações em vigor desde quarta-feira e impôs novas restrições à entrada na cidade.

Desde quarta-feira, os protestos espalharam-se por toda a Turquia, com manifestações anunciadas em muitas cidades de oeste a leste. Segundo uma contagem efetuada pela agência de notícias francesa France-Presse no sábado, foram organizadas manifestações em pelo menos 55 das 81 províncias turcas, ou seja, em mais de dois terços do país.

Em reação às notícias, um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Alemanha referiu que a prisão de Ekrem Imamoglu é um grande revés para a democracia na Turquia e pediu transparência e um julgamento baseado no Estado de direito para esclarecer as acusações.

"A prisão do presidente da câmara de Istambul e proeminente político da oposição, Ekrem Imamoglu, é um grande revés para a democracia", comentou.