Quando André Ventura o corrige, apresentando a soma de dois lugares parlamentares com a revelação dos resultados dos círculos eleitorais no estrangeiro, Nigel Farage mostra uma efusiva admiração. O sistema eleitoral no Reino Unido não lhe permitiria, à partida, - mesmo que, à semelhança do Chega, com 18% dos votos - amealhar nem um décimo dos 50 deputados conquistados pelo partido de Ventura. Como explica ao Expresso Christopher Pich, professor de Marketing Político na Nottingham University Business School, apesar de todo o entusiasmo recente à volta do Reform UK e do aparente crescimento nas sondagens, o sistema eleitoral no Reino Unido limitará o seu sucesso.
“É preciso olhar para trás, para as eleições gerais do Reino Unido de 2015. O UKIP [também era liderado por Farage] teve uma boa pontuação nas sondagens, e os Conservadores estavam ansiosos com a perspetiva de um aumento, e poderemos ver uma situação semelhante após as eleições gerais nos próximos meses: a elevada votação do Reform UK pode não se traduzir em cadeiras. Muito poucos candidatos reformistas serão eleitos nas próximas eleições gerais do Reino Unido, como resultado do sistema de ‘o primeiro passa ao posto’ no Reino Unido."
“O sistema eleitoral do Reino Unido torna extremamente difícil para partidos insurgentes, como o Reform UK e outros, garantirem assentos no Parlamento”, salienta Filippo Trevisan, professor de Comunicação Política na Escola de Comunicação da Universidade Americana. Se as intenções de voto se materializarem nas eleições de Westminster, o Partido Conservador poderá ver grandemente reduzida a sua participação no Parlamento, ficando relegado para uma posição inferior, de uma oposição fragilizada.
Os estudos de opinião mostram que o Reform UK, agora liderado por Richard Tice, reúne cerca de 10% das preferências dos britânicos. Apesar de a marca poder não ser suficiente para eleger, é já substantiva para fazer tremer os Conservadores, que estão em queda. Uma sondagem apresentada pela BBC, no mês passado, revela que o apoio ao Reform UK foi maioritariamente transferido dos Tories, que também perdem eleitores para o Labour. Por cada eleitor que mudou desde 2019 do partido dos conservadores para o dos trabalhistas, há outro que se tranferiu para o Reform UK. Os analistas atribuem a viragem ao carisma de Nigel Farage, o líder populista que ainda é a cara por trás do Reform. “Nigel Farage continua a ser um político muito influente, mais popular entre os eleitores do Partido Conservador do que Rishi Sunak”, aponta Matthew Goodwin, professor de Política e perito em populismos na Universidade de Kent. “Portanto, só por esta razão, tudo o que ele faça ou diga deve ser levado muito a sério pelo Partido Conservador”, conclui Goodwin.