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Simon Harris é o mais do que provável próximo primeiro-ministro da Irlanda

Ministro do Ensino Superior é o único candidato à sucessão de Leo Varadkar na chefia do partido liberal-conservador Fine Gael, não se esperando que surja outro até segunda-feira, data-limite para avançar. Com 37 anos, mas já veterano na política, será o mais jovem chefe de Governo da República

Simon Harris (à direita na imagem) foi um dos companheiros que ladearam o primeiro-ministro Leo Varadkar (em primeiro plano) enquanto este anunciava a sua demissão.
Nick Bradshaw/PA Images/Getty Images

Um dia após o anúncio de demissão de Leo Varadkar, a corrida à chefia do Executivo irlandês parece estar resolvida. O ministro do Ensino Superior, Simon Harris, fez saber esta quinta-feira que quer avançar para a liderança do partido liberal-conservador Fine Gael (Família Irlandesa, em gaélico. Antes disso, já metade da bancada parlamentar lhe declarara apoio, enquanto putativos rivais se afastavam da disputa.

“Estou dentro. Quero ser o próximo líder do Fine Gael. Estou disposto a avançar e a servir”, afirmou Harris ao canal irlandês RTÉ. Conta com o voto de 24 dos 54 deputados, senadores e eurodeputados do Fine Gael. “Estou assoberbado, honrado e um pouco admirado, extremamente grato pelo nível de apoio que recebi hoje de todos os quadrantes do nosso partido.”

O seu maior potencial adversário, Paschal Donohoe — ministro das Finanças e chefe do Eurogrupo —, informou também esta quinta-feira que não era candidato. O mesmo fizeram as ministras Heather Humphreys (Proteção Social) e Helen McEntee (Justiça) e o titular da Economia, Simon Coveney. Harris, de 37 anos, promete “vigor e energia” mesmo que chegue à chefia do partido e do Governo sem concorrência.

O prazo para apresentar candidaturas termina segunda-feira. A escolha cabe a um colégio eleitoral em que as bancadas parlamentares (deputados, senadores e eurodeputados) pesam 65%; os militantes do Fine Gael com pelo menos dois anos de adesão, 25%; e os representantes do poder local, 10%. Os aspirantes devem assegurar as assinaturas de 10% dos parlamentares (seis, portanto).

O político que não chegou a ser jornalista

Varadkar quis acelerar o calendário, para que na conferência anual do partido, a 6 de abril, já haja uma nova direção entronizada. A 10 de abril o Parlamento deve sufragar a nomeação do futuro líder como primeiro-ministro. O demissionário mantém-se neutro, como é tradição.

Harris tem 37 anos e é deputado desde os 24, tendo abandonado a faculdade onde estudava jornalismo para encetar vida política. Já na adolescência era ativista pelos direitos das crianças com défice de atenção ou do espectro do autismo, inspirado por um irmão com necessidades especiais, conta o jornal “Irish Independent”, de Dublin. Assessorou uma companheira de partido, senadora, antes de ser eleito vereador, em 2009, no condado de Wicklow, onde nasceu.

Simon Harris foi ministro da Saúde nos primeiros meses da pandemia de covid-19
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Casado e com dois filhos, é deputado pela mesma circunscrição. Em 2014 falhou a eleição para o Parlamento Europeu. No Governo irlandês, onde entrou com o primeiro-ministro Enda Kenny (2011-17), foi secretário de Estado das Finanças (2014-16) e ministro da Saúde (2016-20) na altura em que o país retirou da Constituição a proibição do aborto, por referendo.

Foi mantido no posto por Varadkar quando sucedeu a Kenny, tendo passado para a atual pasta em junho de 2020. Ainda geriu, portanto, os primeiros meses da pandemia, e foi elogiado.

Sinn Féin à frente nas sondagens

Varadkar renuncia semanas depois de o Governo ter sido derrotado numa consulta popular para alterar a forma como a Constituição irlandesa define família (com base no casamento) e o papel que atribui à mulher (de cuidadora em casa). Diz, porém que isso não o influenciou. As mudanças que o povo rejeitou tinham apoio consensual das forças políticas no poder e na oposição.

Micheál Martin, líder do Fianna Fáil (Soldados do Destino), partido democrata-cristão coligado com o Fine Gael e os Verdes no Executivo em funções, descartou que a saída de Varadkar vá implicar eleições antecipadas. Harris concorda.

As legislativas normalmente acontecerão em março de 2025, portanto, embora os partidos da oposição — Sinn Féin (Nós Mesmos, nacionalista, outrora ligado ao grupo terrorista IRA), Partido Trabalhista, Sociais-Democratas, Povo antes do Lucro (esquerda) e Aontú (Unidade, republicano) — exijam uma convocatória imediata devido à demissão de Varadkar.

“Em vez de avançarem coxos, em vez de passarem o cargo de primero-ministro de mão em mão mais uma vez, a via democrática correta nesta altura é dar a vos ao povo”, criticou a chefe do Sinn Féin, Mary Lou McDonald. Lidera as intenções de voto para as legislativas.

A decisão do ainda primeiro-ministro permite que o próximo líder tenha um ano até às legislativas para recuperar. “Tem de haver rotatividade na política”, justificou-se. Rejeita que esteja a preparar-se para assumir um cargo europeu depois das eleições de junho próximo.

“Tomei a decisão final no fim de semana e penso que uma vez tomada na minha cabeça, era importante passar à ação”, explicou Varadkar, que alegou razões políticas e pessoais e afirmou já não se sentir a melhor pessoa para o cargo. Garante que o seu namorado, Matt, ficou radiante.