A família de Alexey Navalny, o líder da oposição russa, ainda não tinha formalmente confirmado a sua morte, apesar das manifestações de vários chefes de Estado. Fê-lo este sábado. Segundo a estação britânica BBC, um porta-voz da família de Navalny anunciou que aquele que foi o principal opositor de Vladimir Putin morreu às 14h17 (horário local) do dia 16 de fevereiro, segundo um documento entregue à mãe de Navalny, Lyudmila. O corpo do líder da oposição russa está agora com os investigadores, adiantou a mesma fonte.
Alexey Navalny, o principal opositor de Vladimir Putin, encontrava-se a cumprir uma pena de 19 anos, numa prisão de alta-segurança. Em 2022, no documentário “Navalny”, vencedor de um Óscar, o político e ativista anticorrupção terá antecipado a sua própria morte às mãos do Kremlin. “Vocês não estão autorizados a desistir. Se eles decidirem matar-me, significa que somos incrivelmente fortes”, referia então Alexey Navalny. Palavras que nas últimas horas têm ecoado nas redes sociais.
A morte de Navalny, 47 anos, tinha já sido confirmada pelos Serviços Prisionais Federais (FSIN), num comunicado citado pela imprensa internacional. "A 16 de fevereiro de 2024, na colónia prisional n.º 3, o recluso AA Navalny sentiu-se mal depois de uma caminhada, perdendo quase imediatamente a consciência", referia a nota do FSIN da região ártica de Yamal-Nenets, onde se situa a colónia penal onde Navalny cumpria uma pena de 19 anos de prisão.
A mesma nota referia que "o pessoal médico da instituição chegou imediatamente ao local e foi chamada uma equipa de emergência médica. Foram efetuadas todas as medidas de reanimação necessárias, mas sem resultados positivos", concluindo que "os médicos de urgência confirmaram a morte do condenado".
Nas últimas horas têm-se somado intervenções públicas de líderes de vários países que acusam o Kremlin e Putin de ter assassinado Alexey Navalny, o homem que dedicou a vida a lutar pela mudança de regime na Rússia. De Zelensky, a Joe Biden, ao Governo britânico, vários líderes internacionais têm exigido a responsibilização da Rússia nesta morte.
ONU pede autópsia independente
Os relatores das Nações Unidas pediram de imediato que a morte do líder da oposição russa seja investigada, num processo que inclua a autópsia por peritos independentes. "A morte de Navalny pode constituir uma privação arbitrária do direito à vida e serve como um lembrete da drástica deterioração dos direitos humanos na Rússia", afirmaram os especialistas da ONU, em comunicado.
Os mesmos responsáveis recordaram também as várias vezes em que denunciaram as condições em que Navalny estava detido e que podiam ser consideradas tortura e maus-tratos.
Recorde-se que em 2020, enquanto viajava de Tomsk (na Sibéria) para Moscovo, Navalny sentiu-se mal no avião, tendo o piloto realizado uma aterragem de emergência, que lhe terá salvo a vida. O líder da oposição russa foi transportado para um hospital na Rússia, em Omsk, e depois para Berlim, onde esteve em coma. As análises ao sangue revelaram sinais de envenenamento com Novichok, um agente nervoso. O Kremlin negou sempre o seu envolvimento no caso, mas Navalny nunca deixou de apontar o dedo a Putin.
Ainda sem confirmar formalmente a morte de Navalny, a mulher do opositor Alexei Navalny afirmou esta sexta-feira que o Presidente russo, Vladimir Putin, e os que o rodeiam vão pagar pela morte do marido, anunciada pelos serviços prisionais da Rússia. "Se isto for verdade, gostaria que Putin, toda a sua equipa, toda a sua comitiva, todo o seu Governo e os seus amigos soubessem que serão punidos pelo que fizeram ao nosso país, à minha família e ao meu marido. Serão levados à justiça e esse dia chegará em breve", declarou Yulia Navalnaya na Conferência de Segurança de Munique, na Alemanha.
Homenagens sucedem-se e há mais de 100 detidos na Rússia
As homenagens em memória do opositor de Putin somam-se em vários países. Incluindo na Rússia onde, na última noite, mais de cem pessoas foram detidas em diversas concentrações. Segundo a contabilização publicada este sábado na página da organização não-governamental OVD-Info, "mais de 101 pessoas foram detidas em dez cidades, a maioria das quais em São Petersburgo".
Ao longo da noite, as coroas de flores, deixadas como homenagem a Navalny junto a vários memoriais, foram removidas por grupos de desconhecidos enquanto a polícia observava, revelam vídeos e fotografias colocados nas redes sociais.
Em Moscovo, por exemplo, os tributos foram retirados de um memorial junto à sede dos serviços de segurança russos, mas de manhã já havia novamente flores no local.
Já este sábado, a polícia bloqueou o acesso a um memorial na cidade siberiana de Novosibirsk e deteve várias pessoas, segundo a OVD-Info.