Internacional

ONG Oxfam defende imposto sobre fortunas nos países pobres  

Mais de metade dos países mais pobres terão de reduzir a despesa pública: a organização Oxfam lamenta que nestes países se gaste quatro vez mais em pagamentos de dívida pública do que em serviços de saúde

Mais de metade dos países mais pobres vão ter de reduzir a despesa pública nos próximos cinco anos devido ao aumento dos juros sobre a dívida, alertou a organização Oxfam, sugerindo um imposto sobre fortunas.

Num estudo publicado hoje, a organização humanitária refere que atualmente os países de rendimento baixo e médio-baixo serão obrigados a pagar quase 500 mil milhões de dólares (434 mil milhões de euros) por dia em juros e amortizações da dívida até 2029.

Para cumprir os compromissos, terão de fazer cortes na despesa em 229 mil milhões de dólares (217 mil milhões de euros), calculou.

A Oxfam lamenta que estes países, onde vivem 2,4 mil milhões de pessoas, gastem quatro vezes mais a pagar dívidas aos países credores do que em cuidados de saúde.

No dia em que começam as reuniões anuais do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI) em Marraquexe, a organização não-governamental critica estas instituições por encorajarem os países em dificuldades a cortar na despesa pública, despedir funcionários públicos e concentrarem-se no pagamento da dívida externa.

"O Banco Mundial e o FMI estão a regressar a África, pela primeira vez em décadas, com a mesma velha mensagem falhada", lamentou o Diretor Executivo interino da Oxfam International, Amitabh Behar.

A organização disse ter analisado 27 programas de empréstimo negociados com países de baixo e médio rendimento desde 2020 e concluiu que o FMI encorajou os governos a cortar seis vezes mais o valor orçamentado em serviços públicos.

"O FMI está a forçar os países mais pobres a uma dieta de fome de cortes na despesa, aumentando a desigualdade e o sofrimento", referiu Behar.

Em vez de mais políticas de austeridade e mais endividamento, a Oxfam defende a tributação de 5% sobre fortunas superiores a cinco milhões de dólares.

Este imposto sobre os ricos permitiria ao Egito duplicar as despesas com os cuidados de saúde, à Jordânia duplicar o orçamento para a educação e ao Líbano aumentar sete vezes as despesas com os cuidados de saúde e a educação.

Só Marrocos poderia angariar 1,22 mil milhões de dólares, numa altura em que enfrenta uma fatura de reparação de 11,7 mil milhões de dólares, devido ao recente e devastador terramoto, avançou a Oxfam.

"O FMI e o Banco Mundial devem permitir que os governos prossigam políticas económicas que redistribuam os rendimentos e invistam em bens públicos para reduzir drasticamente o fosso entre os ricos e os restantes", defendeu Behar.